Título: Destruição contínua
Autor: Rocha, Leonel
Fonte: Correio Braziliense, 27/05/2009, Política, p. 09

Mata Atlântica perde 102,9 mil hectares de floresta entre 2005 e 2008. Número corresponde a dois terços da área da cidade de São Paulo. Minas Gerais, Santa Catarina e Bahia são os estados com maior índice de devastação

Em vigor há quase três anos, a lei da Mata Atlântica não conseguiu evitar a continuação do desmatamento do bioma com a maior diversidade de espécies vegetais e animais do país. Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre 2005 e o ano passado, divulgado ontem pela organização não governamental SOS Mata Atlântica, mostra que pelo menos 102,9 mil hectares da floresta nativa foram desmatados ilegalmente nos 10 dos 17 estados onde ainda existem vestígios da vegetação original. A área desfolhada é equivalente a dois terços da cidade de São Paulo e representa 1% do que ainda resta das árvores que cobriam inicialmente todo o litoral brasileiro.

Os dados constam do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, lançado pela ONG em São Paulo. Segundo o levantamento, a média anual de desmatamento foi de 34,1 mil hectares. Do total destruído, 59 pontos ocorreram em áreas acima de 100 hectares. Os dados do Inpe mostram que o bioma está sendo destruído por pequenas intervenções menores que 10 hectares e em regiões espalhadas pelo litoral. ¿Os dados avaliados no período de 2005 a 2008 mostram que o desmatamento continua na Mata Atlântica e é cada vez mais urgente a atuação efetiva do poder público¿, alerta Marcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento e coordenadora do Atlas.

Os estados mais atingidos pelo desmatamento foram Minas Gerais, Santa Catarina e Bahia. Juntos, os três perderam quase 83 mil hectares nos três anos pesquisados. Derrubadas significativas também foram constatadas no Paraná (9,9 mil hectares), Rio Grande do Sul (3,1 mil), São Paulo (2,4 mil), Mato Grosso do Sul (2,2 mil), Rio de Janeiro (mil), Goiás (733) e

Espírito Santo (573). Os dados divulgados ontem também revelaram os 10 municípios onde a mata foi mais prejudicada. O campeão é Jequitinhonha, em Minas Gerais, seguido do catarinense Itaiópolis. Também aparecem entre as cidades mais atingidas Bom Jesus da Lapa, Cândido Sales e Vitória da Conquista, todas na Bahia.

Culpa O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse ontem que está muito preocupado com o desmatamento na Mata Atlântica. Ele admitiu culpa do governo, mas garantiu que está estudando alternativas para que os produtores rurais preservem a floresta e ao mesmo tempo tenham alternativas de sobrevivência. Uma das ideias é estabelecer a isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, conhecido como ICMS verde.

Da área original do bioma, apenas 102.012km², ou 7,91%, estão intactos. Mesmo assim, o levantamento do Inpe considerou extratos acima de 100 hectares. Uma das maiores preocupações da SOS Mata Atlântica é a fragmentação das manchas de florestas. Sem um conjunto significativo, o processo de preservação fica cada vez mais difícil e, quando existe, tem baixo impacto na conservação geral. Os ambientalistas querem criar corredores de preservação entre as manchas de vegetação que ainda existem.