Título: Países emergentes são amortecedores da crise
Autor: Jungblut, Cristiane; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 17/09/2008, Economia, p. 31

Especialistas vêem avanços na política econômica dessas nações e crescimento via mercado interno

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. Ao contrário do que ocorria há pouco mais de uma década, os países emergentes agora podem servir de amortecedores do terremoto que sacode a economia global. Especialistas concordam que essas nações, além de terem melhorado a condução das política monetária e econômica nos últimos anos, crescem baseadas sobretudo na demanda interna. Ou seja, deverão continuar comprando produtos das economias mais ricas e, assim, minimizando a desaceleração do comércio mundial. O grande destaque, neste ponto, é a China.

- O impacto da crise não será bom para os emergentes, mas não será tão negativo como antes - resumiu o professor da Universidade de Columbia Thomas Trebat.

Para ele, os países emergentes têm a vantagem de estar de fora da crise propriamente dita. Ou seja, não há riscos importantes de contaminação em seus sistemas financeiros, que poderiam levar à falência de bancos ou outras instituições. Nos Estados Unidos, com a crise hipotecária, importantes bancos foram nocauteados, como o Lehman Brothers - o quarto maior banco de investimentos do país.

Quando se olha para a economia real, os emergentes têm papel fundamental. De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, a contribuição desses países no crescimento do mundo é maior do que as economias ricas. A China, por exemplo, deve responder por 0,6 ponto percentual da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) global, calculado em 3,7% este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Os EUA, epicentro da crise, devem contribuir com apenas 0,11 ponto.

- Essa situação era inimaginável na década de 90, que começou com a crise da Ásia - afirmou Lima.

Para ele, mudanças de política monetária e econômica nos países emergentes de lá para cá garantiram esse reforço: adoção de câmbio flutuante e construção de reservas internacionais robustas, como o México, a Rússia e o próprio Brasil. O "colchão" brasileiro está acima dos US$205 bilhões, o que torna o país credor internacional. Ou seja, o país possui em caixa mais do que suficiente para cobrir compromissos externos.

Nem todos os emergentes vivem "céu de brigadeiro"

É claro, ressaltam os especialistas, que esse "céu de brigadeiro" não vale para todos os emergentes. Em alguns casos, como o da Turquia, a crise pode acertar em cheio o país devido ao alto endividamento. Além disso, as economias muito dependentes do comércio de commoditiesdeverão sentir mais, como Chile, grande exportador de cobre. Isso porque os preços internacionais de minérios, petróleo e alimentos vêm caído de maneira vertiginosa e, assim, afetando as exportações. Só ontem, por exemplo, o barril do petróleo recuou cerca de 5% nos EUA, para pouco mais de US$91.

- A crise piorou e ainda há fatos desconhecidos. Mas não é por conta desses três dias que as expectativas das economias vão piorar muito. Já esperávamos desaceleração americana e no mundo - disse o economista do banco Real Cristiano Souza.