Título: PF e Abin divergem sobre Satiagraha
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 18/09/2008, O País, p. 3

Lacerda e Corrêa trocam farpas em depoimento no Senado

Adriana Vasconcelos e Catarina Alencastro

BRASÍLIA. Uma troca de farpas entre o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, e o diretor afastado da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, reforçou as divergências sobre a condução da Operação Satiagraha pelo delegado Protógenes Queiroz. Em depoimento à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, do Senado, Corrêa deixou claro que não foi informado da ajuda da Abin na operação. Lacerda disse que, antes de a Abin ajudar Protógenes, ele próprio pediu ao diretor da PF, em novembro de 2007, que desse apoio à investigação sobre Daniel Dantas.

Lacerda deu a entender que a Abin só teve de entrar no caso porque Protógenes não teria recebido a ajuda necessária da direção da PF. Lacerda, que antecedeu Corrêa na direção da PF, disse que, na sua época, era comum o diretor receber pedidos de apoio diretamente dos delegados que chefiam os inquéritos. Ele disse que a mudança no comando da PF pode ter gerado algum tipo de insegurança em Protógenes, e feito ele não pedir diretamente apoio a Corrêa.

- Hoje, não tem nenhum inquérito que o diretor-geral da PF acompanhe diretamente. Mas, dada a dimensão da investigação, o caminho esperado de um servidor é que ele faça chegar aos seus superiores os casos mais expressivos. O emprego do efetivo da Abin não passou pelo meu gabinete - afirmou Corrêa.

Lacerda se defendeu dizendo que houve um problema de relacionamento interno na PF:

- A colaboração entre a Abin e a PF se dá quase diariamente, imagina se tivermos de comunicar isso a cada ação. A PF é minha casa e lamento essa situação. Acho o delegado Protógenes um homem sério. Não posso dizer porque ele não levou o assunto à direção da PF.

Mas, o momento mais tenso na reunião foi quando o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) indagou ao general Jorge Félix se a Abin não teria alertado previamente o presidente Lula sobre a existência do mensalão, tendo em vista que uma de suas atribuições é se antecipar a crises. O general ficou mais nervoso quando o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) perguntou se a agência teria comunicado o presidente sobre insinuações de possível sociedade de um de seus filhos com o banqueiro Daniel Dantas.

- Não estou aqui para discutir política partidária - reagiu o general.

- Isso não é política partidária - retrucou Heráclito.

- Me reservo o direito de não responder a essas indagações. As informações produzidas pela Abin são feitas para o presidente da República.