Título: Ministro, sem provas, diz que Abin pode grampear
Autor: Suwwan, Leila; Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 18/09/2008, O País, p. 4

Félix contesta e diz que Jobim deve apresentar à CPI laudos do Exército sobre equipamentos

BRASÍLIA. Sem apresentar provas, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, repetiu ontem na CPI do Grampo a acusação, feita por ele ao presidente Lula, de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teria equipamentos para fazer escutas telefônicas. Em tom de cautela, Jobim evitou assumir responsabilidade pela informação, que atribuiu ao Exército. E frustrou os deputados ao exibir apenas cópias de páginas da internet com descrições dos aparelhos da Abin.

Jobim não levou à CPI o laudo feito por engenheiros do Exército para atestar se os equipamentos da Abin podem ou não ser usados para fazer grampos. De manhã, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Félix, havia dito no Senado ter entregue uma cópia do documento ao ministro:

- Os equipamentos que temos na Abin não são para fazer escuta, mas para realizarvarreduras. O ministro Jobim já está com os laudos do Exército e deverá apresentá-los.

À CPI, Jobim negou ter recebido o papel e disse que a responsabilidade pela perícia dos aparelhos era de Félix. Ele sugeriu ao deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) que perguntasse sobre o laudo para o general:

- Mas eu já perguntei, ministro e ele disse que o senhor iria mostrar o laudo.

- Lamento, deputado. Isso é da competência exclusiva do GSI - disse Jobim.

Jobim confirmou que sugeriu a Lula afastar a cúpula da Abin, em reunião no Planalto para tratar do grampo ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Mas surpreendeu ao dizer que a informação sobre os equipamentos da Abin não foi determinante para a queda do diretor-geral Paulo Lacerda:

- A decisão do presidente não se deu por isso. Deu-se pela informação de que a Abin havia participado com alguns elementos dessa operação.

Jobim disse referir-se ao aparelho Stealth LPX, e não ao Oscor 5000, que a Abin alega ser capaz apenas de fazer varreduras para verificar a existência de escutas. Ele confirmou que os equipamentos foram comprados pelo Exército em nome da Abin, mas não exibiu notas fiscais ou o pedido de compra. Ele entregou cópias de páginas de internet que descrevem o Oscor 5000, o Orion e o Stealth LPX.

Em aparente referência a queixas do senador Heráclito Fortes (DEM-PI), Jobim disse ter recebido a informação que três agentes da Abin teriam seguido um senador em viagem ao Rio. Para o ministro, o episódio, negado pela agência, provaria que houve irregularidades na participação da Abin na Satiagraha:

- Minha posição de sugerir o afastamento da cúpula da Abin não decorreu só desse fato (compra de equipamentos). Decorreu da informação de que agentes da Abin participaram da operação. Sendo crime comum, não compete à Abin fazer investigação. Havia o reconhecimento de que agentes da Abin estavam em desvio de função.

O agente aposentado da Abin Francisco Ambrósio do Nascimento também foi ouvido ontem. Ele alegou que seu trabalho na operação Satiagraha era meramente burocrático. Sua colaboração, afirmou, se restringia a separar e-mails por assunto, no edifício sede da PF, em Brasília.

- Não tenho a menor idéia de quem fez escuta ilegal.