Título: Exército sobe a Rocinha: confronto, só verbal
Autor: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: O Globo, 18/09/2008, O País, p. 12

Cabos eleitorais de candidato da favela batem boca com deputado do DEM, a quem chamam de covarde

Gabriel Mascarenhas

No primeiro dia de ocupação do Exército nas favelas da Rocinha e do Vidigal, na Zona Sul do Rio, o único confronto foi travado entre cabos eleitorais do candidato a vereador Claudinho da Academia (PSDC) e o deputado federal Índio da Costa (DEM), que esteve na comunidade acompanhando sua correligionária e candidata a prefeita Solange Amaral. Aliados de Claudinho discutiram rispidamente com o deputado e o chamaram de covarde.

A confusão começou quando Índio da Costa e Claudinho encontraram-se na Via Ápia, entrada da favela. O candidato a vereador, acusado de ser apoiado pelos traficantes da favela, estava dando uma entrevista. Ao lado dele, o deputado começou a discutir com um cabo eleitoral de Claudinho, identificado apenas como Leonardo. Ele acusou Índio de ter abandonado os eleitores da Rocinha depois de se eleger deputado.

Solange deixava a favela, enquanto Índio dizia que a entrada na comunidade era restrita a candidatos da Rocinha. Exaltado, o deputado contou que foi intimidado por um homem 40 dias atrás:

- Eu estava panfletando na entrada da favela e, toda vez que dava uma panfleto para alguém, um cara chegava e falava: "Cuidado, hein".

Claudinho da Academia, que teria o apoio do chefe do tráfico de drogas na favela, interrompeu a entrevista, chamou Índio de "oportunista" e pediu que ele apontasse quem o ameaçara. A resposta foi irônica:

- Quer que eu o encontre agora?

Índio diz que "não se curvou ao tráfico"

A discussão terminou num acalorado bate-boca. Radialista e amigo de Claudinho, José Fernandes Júnior aproximou-se do deputado e, com o dedo em riste, afirmou:

- Índio, você é covarde. Mais uma vez, está sendo covarde. Vou chamar a terceira idade (da Rocinha) e perguntar a eles se você cumpriu o que prometeu. Não vem com essa, seu covarde. Você é covarde - gritava Fernandes.

Em meio às acusações, Índio, também muito nervoso e gritando, argumentou ter sido, no passado, o vereador mais votado na Rocinha e que "não se curvava ao tráfico". Os ânimos só se acalmaram quando o deputado deixou a favela, sob vaias.

Até as atenções se voltarem para a guerra verbal. Solange Amaral fez corpo-a-corpo e entregou à equipe de fiscalização do TRE uma propaganda irregular de Claudinho. Era um adesivo, pregado na fachada de uma casa, que trazia um parecer da Justiça atestando que a ficha criminal do candidato era limpa. O material foi apreendido.

Claudinho voltou a negar ligações com criminosos e reafirmou que o acesso à comunidade é livre. Segundo o chefe da fiscalização do TRE, Luiz Fernando Santa Brígida, das 20 placas retiradas da Rocinha, 19 eram de Claudinho da Academia. O agente do TRE afirmou que o baixo número de propagandas irregulares encontradas na Rocinha é resultado da ação prévia de assessores de Claudinho, que nega a acusação.

- Chegaram informações de que assessores do candidato (Claudinho) retiraram as placas antes de chegarmos. Num sobrevôo de helicóptero, vimos pessoas recolhendo as propagandas pela manhã.

Durante o tempo em que a imprensa permaneceu na Rocinha, o advogado Ricardo Gama, dono de um escritório na comunidade, filmou o trabalho das equipes de reportagem. Amigo de Claudinho, ele disse que costuma registrar as operações na Rocinha "por hobby".

Os dois mil militares que estarão ocupando a Rocinha e o Vidigal até amanhã passarão a monitorar as favelas do Jacarezinho, Antares, Carobinha e Barbante a partir de domingo. No sábado não haverá ocupação.