Título: Detro lança campanha contra corrupção interna
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 18/09/2008, Rio, p. 21

Cinco funcionários são afastados sob suspeita de receber propinas da máfia do transporte alternativo no Rio

Antônio Werneck

A guerra para regularizar o transporte alternativo no Rio tem custado caro ao presidente do Detro, Rogério Onofre Oliveira. Vivendo sob a proteção de seguranças armados 24 horas por dia e alterando constantemente seus deslocamentos para o trabalho ¿ depois de seguidas ameaças de morte ¿ ele agora partiu para outro confronto: combater a corrupção interna do Detro. Somente este mês, cinco funcionários foram afastados e passaram a ser investigados, acusados de receber propina. Mas, segundo cálculos do presidente do Detro, o problema pode ser maior: de 5% a 10% da fiscalização podem estar envolvidos em corrupção.

¿ Estamos num combate sistemático ao transporte clandestino, não podemos permitir desvios internos. Instalamos internamente a tolerância zero para o desvio de conduta. Agora quem for apanhado vai para a rua ¿ disse Rogério Onofre.

Corregedoria para combater desvio interno no Detro

O presidente do Detro explicou que o governador Sérgio Cabral precisou publicar no Diário Oficial um decreto-lei para viabilizar a Corregedoria Geral:

¿ Tínhamos uma corregedoria, mas ela praticamente não funcionava por falta de funcionários. Agora, com o decreto do governador, estamos provendo a Corregedoria de material humano e técnico ¿ afirmou Rogério Onofre.

O Detro também instituiu uma ouvidoria e tem recebido as denúncias da população sobre o envolvimento de funcionários em desvios de conduta:

¿ Queremos ampliar nossas ações, tanto no combate à máfia externa como no desvio interno ¿ disse o presidente do Detro.

Apelidado de ¿xerife das vans e do transporte alternativo¿, Rogério Onofre lembrou que o combate à máfia e a instalação de medidas de fiscalização triplicaram a arrecadação do Detro no estado. Um exemplo: em todo ano de 2007 foram contabilizados em receita bruta cerca de R$18 milhões. Agora, com o aperto na fiscalização e as licitações para a exploração de linhas de vans no interior, 2008 deve fechar com uma receita total de mais de R$50 milhões.

¿ Estamos abrindo espaço para arrecadar mais e aplicar os recursos em outras áreas ¿ disse Rogério Onofre.

Como o transporte alternativo virou no Rio sinônimo de problema de segurança pública, o presidente do Detro disse que assinou convênio com o delegado José Mariano Beltrame, secretário de Segurança, repassando R$10 milhões para equipar a polícia. O dinheiro será gasto na manutenção de cem carros da frota da Polícia Civil; identificação de armas entregues aos batalhões da PM; aquisição de 14 cabines blindadas para serem instaladas pela PM em áreas consideradas de risco; e ainda a compra de cem carros para a Polícia Civil.

¿ É importante essa parceria. A Secretaria de Segurança tem ajudado muito no combate ao transporte ilegal ¿ disse o presidente do Detro.

As ameaças de morte que provocaram uma reviravolta na rotina do presidente do Detro transformaram também o dia-a-dia dos funcionários. Depois de iniciar operações de combate ao transporte irregular, fiscais passaram a ser agredidos e ameaçados de morte. Rogério Onofre afirma não ter dúvidas de que a briga que está travando é com o crime organizado:

¿ Tenho convicção de que não estou combatendo apenas o transporte clandestino e os ônibus piratas. Minha briga é com um braço do crime organizado. Por trás de vans, Kombis e ônibus piratas, há criminosos e até traficantes de drogas ¿ afirmou o presidente do Detro.

Rogério Onofre disse que, desde o início deste ano, foram apreendidos, apenas na cidade do Rio, 12.998 veículos, e aplicadas 34.701 multas. Ainda segundo o Detro, foram apreendidas apenas no município 3.875 vans piratas, sem contar outras mil legalizadas que foram recolhidas por irregularidades na documentação.