Título: PF intervém na investigação que prendeu seu número dois
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 19/09/2008, O País, p. 11

Delegados responsáveis pelo inquérito são afastados e corregedor assume; superintendente no AP deve ser exonerado

Jailton de Carvalho e Ilimar Franco

BRASÍLIA. O diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, interveio ontem nas investigações que resultaram na prisão do diretor-executivo da PF, Romero Menezes, o segundo homem na hierarquia da instituição. Corrêa determinou o afastamento dos delegados que estão à frente da Operação Toque de Midas - investigação sobre supostas fraudes da mineradora MMX, do empresário Eike Batista - e que acusam Romero dos crimes de corrupção passiva e advocacia administrativa. Os inquéritos agora serão conduzidos pela equipe do corregedor-geral da PF, José Ivan Lobato.

Hoje mesmo, Lobato e os demais delegados da Corregedoria deverão chegar a Macapá para assumir todos os inquéritos relacionados à MMX e ao suposto favorecimento de Romero Menezes ao irmão José Gomes de Menezes Júnior, gerente de uma empresa de limpeza e segurança. O corregedor-geral também deverá investigar a atuação do superintendente da PF no Amapá, Anderson Rui Fontel. A cúpula da PF suspeita que Fontel coordenou a Toque de Midas com o objetivo de atingir Romero.

Corrêa anunciou a intervenção na Toque de Midas em reunião com chefes da PF. A medida é uma tentativa do diretor de acalmar um grupo de delegados insatisfeitos com a prisão de Menezes. Para esse grupo, os policiais que estavam à frente da Toque de Midas, junto com o procurador da República Douglas Araújo, não tinham indícios suficientes para pedir a prisão do número dois da PF. A prisão de Menezes abriu crise interna ainda pior que o afastamento do ex-diretor-executivo Zulmar Pimentel, pela Operação Navalha, ano passado.

Em nota, o presidente da Associação dos Delegados de PF, Sandro Avelar, protestou: "Aconteceu com o 02, mas poderia ter sido o 01, o 100, o 1000. Não interessa! O risco de vermos alimentado o prosaico discurso "a Polícia Federal está descontrolada", e logo surgir um messias com a proposta salvadora de colocar à nossa frente um figurão político ou oriundo de outro órgão, é daqui para ali".

A reação de Corrêa não se limitará à intervenção na Toque de Midas. Está praticamente acertado o afastamento de Rui Fontel da Superintendência do Amapá. Segundo um delegado, o diretor só não tirou Fontel do cargo ainda para não parecer retaliação à prisão de Menezes. Essa é a segunda vez que Corrêa troca o comando de uma grande investigação de combate à corrupção. Em julho, o delegado Protógenes Queiroz foi afastado da Operação Satiagraha, que investiga supostos crimes do banqueiro Daniel Dantas. Pela versão oficial, Protógenes deixou as investigações para se dedicar a um curso de especialização.