Título: Trânsito mais violento
Autor: Curi, Ludmila
Fonte: O Globo, 19/09/2008, Rio, p. 14

Três meses após entrada em vigor da Lei Seca, número de vítimas de acidentes volta a subir

Ludmila Curi

ASemana Nacional do Trânsito começou ontem sem muito o que se comemorar. Dados da Secretaria estadual de Saúde mostram que o número de acidentes voltou a crescer, depois da redução registrada no primeiro mês de vigência da Lei Seca. O Serviço Móvel de Urgência (Samu), que socorre entre 20% e 30% das vítimas de trânsito no Rio, prestou 198 atendimentos (uma média diária de 6,6) 30 dias antes da proibição da bebida. No primeiro mês da lei, que começou a valer no dia 20 de junho, o número caiu para 156. Em julho, voltou a crescer, chegando a 169. Agora, num período de 25 dias - de 20 de agosto a 15 de setembro -, já foram registrados 170 atendimentos (uma média diária de 6,8, mais que antes da Lei Seca).

- Nos dois primeiros meses, havia aquela fiscalização, blitz em cada bairro por onde você passava. Agora, já deu uma relaxada. Não vejo blitz mais - disse o estudante Robson da Rocha Júnior ao "RJ TV", da Rede Globo.

Segundo Sebastião Faria, presidente do Detran-RJ, a redução inicial do número de acidentes não se manteve porque a fiscalização não está mais tão atuante.

- No início da lei, a redução do número de acidentes com mortos chegou a 44% . Tem que haver fiscalização contínua - disse.

O comandante do Batalhão de Choque, coronel Carlos Milagres, responsável pelas operações relacionadas à Lei Seca, nega a redução no número de ações. Segundo ele, diariamente são realizadas blitzes em diferentes pontos do Rio, exceto quando chove - para evitar acidentes envolvendo policiais e motoristas.

Acidente no Centro deixa feridos

Do início de agosto até 13 de setembro, 71 carteiras de motoristas foram apreendidas na cidade do Rio, em ações do Batalhão de Choque em parceria com o Detran. O número é menor do que o total de pessoas reprovadas no teste do bafômetro, porque a PM também realiza operações sem acompanhamento do Detran. A corporação, porém, não divulgou o resultado de suas ações relativas à Lei Seca.

Ontem, não foi a bebida, mas o excesso de velocidade que provocou um acidente perto da Central. Um ônibus da linha 107 (Central-Urca), da Viação Amigos Unidos, perdeu a direção numa curva e subiu a calçada, atropelando, no final da tarde, Jeferson Matias Duarte, de 20 anos. Cinco passageiros ficaram feridos.

Segundo o presidente do Detran-RJ, a Zona Oeste é o lugar com mais acidentes com mortos na faixa etária de 18 a 22 anos. A região tem quatro das dez vias mais perigosas do estado: as avenidas das Américas, Ayrton Senna e Cesário de Melo e a Estrada dos Bandeirantes. Nelas, em 2007, ocorreram 70 mortes em acidentes.

Por esse motivo, 90 escolas de ensino médio da região serão as primeiras a receber um curso de 90 horas/aula sobre o Código de Trânsito Brasileiro. Quem fizer o curso não vai precisar assistir a aulas teóricas na auto-escola quando quiser tirar carteira. Além dos adolescentes, as crianças vão receber atenção do Detran. A campanha desenvolvida pelo órgão para a Semana Nacional do Trânsito deste ano é dedicada aos pequenos. Em 2007, 60 crianças perderam a vida e 987 sofreram as seqüelas de um acidente de trânsito no Rio. Dados do primeiro trimestre de 2008 apontam para um cenário semelhante: dez crianças de até 12 anos morreram e 235 ficaram feridas.

A Semana Nacional do Trânsito segue até o dia 25. A iniciativa inclui outdoors de conscientização espalhados pela cidade e terá várias ações que já fazem parte da rotina do Detran, como a "Night de responsa". A campanha foi lançada ontem, no Museu Histórico Nacional, onde o presidente do Detran anunciou que estuda com a UFRJ a criação da Minicidade do Trânsito - uma réplica de um bairro, para ensinar às crianças, de maneira lúdica, como circular pelas ruas. O projeto custará R$2 milhões ao Detran, ocupará área de 12 mil metros quadrados e aguarda a aprovação do conselho universitário da UFRJ.