Título: Rússia pára pregão após Bolsa despencar 10%
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 18/09/2008, Economia, p. 27

Ações de dois grandes bancos chegam a cair 20%. BC japonês injeta US$29 bi no mercado

Gilberto Scofield Jr.*

MOSCOU e PEQUIM. O órgão regulador da Rússia suspendeu ontem as negociações na Bolsa de Valores do país, depois que as ações de dois grandes bancos ¿ Sberbank e VTB ¿ chegaram a cair 20%. A queda dos papéis arrastaram os dois principais índices do mercado russo. O Micex chegou a cair 10% no dia, mas estava em queda 3,1% quando o pregão foi suspenso. Na véspera chegou a cair 17%. E o RTS recuava ontem 6,4% no momento em que as operações foram interrompidas.

A decisão de suspender o pregão pela segunda vez esta semana se deu por volta das 12h10m (horário local). Diante do agravamento da crise, o Ministério das Finanças russo anunciou que emprestaria aos três principais bancos locais um montante de US$44 bilhões, com vencimento de três meses. Além disso, o Banco Central russo injetou US$12 bilhões no sistema financeiro ontem, seguindo a ação dos bancos centrais ao redor do mundo que, desde segunda-feira, têm promovido injeções de liquidez no mercado.

Operadores disseram que, além da contaminação da crise americana ¿ anteontem a corretora Kit Finance disse que não teria como cumprir suas obrigações ¿, contribuíram para o pânico no mercado russo a queda do preço do petróleo e o recente conflito entre Moscou e a Geórgia. Desde o pico alcançado em maio, o índice RTS já acumula perdas de 60%.

Os bancos centrais asiáticos voltaram a injetar mais dinheiro no mercado ontem. Somando todas as ações, foram ao menos US$33,7 bilhões apenas ontem. O BC japonês ofereceu três trilhões de ienes (US$29,3 bilhões) ao sistema, elevando para 5,5 trilhões de ienes (US$52,03 bilhões) o total ofertado ao sistema financeiro esta semana pela instituição. Com isso, a Bolsa de Tóquio subiu 1,21%, na contramão das quedas observadas em outras bolsas da região, como na China (queda de 2,9%).

No seu pedido de falência, no domingo, o banco Lehman Brothers afirma que devia US$1,6 bilhão em créditos para seis bancos japoneses, incluindo US$463 milhões ao banco Aozora, de Tóquio, US$289 milhões ao Mizuho Corporate e US$231 milhões ao Shinsei. Segundo analistas japoneses, porém, as instituições citadas passaram os últimos meses fechando operações financeiras para garantir o recebimento ainda que parcial destes créditos podres, algumas vendendo os papéis para outras instituições (o que diluiria o risco).

Tsutomu Jimbo, porta-voz do Aozora, afirmou que os créditos ligados ao Lehman equivalem hoje a apenas US$25 milhões. Notas oficiais do Mizuho também buscaram acalmar o mercado afirmando que o calote foi bastante reduzido. Pelo sim, pelo não, o BC japonês decidiu manter inalteradas ontem suas taxas básicas de juros de 0,5% ao ano, a menor entre os países desenvolvidos.