Título: Fusão tenta salvar o 5º maior banco britânico
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 18/09/2008, Economia, p. 27

Com a bênção do primeiro-ministro Gordon Brown para evitar quebra do Halifax, instituição se une a Lloyds TSB

Fernando Duarte

LONDRES. Uma operação que em tempos normais seria considerada polêmica em termos de competitividade no setor financeiro surgiu como tábua de salvação para o Halifax, um dos principais bancos do Reino Unido, em meio ao caos dos últimos dias: a instituição, cujas ações na bolsa de Londres despencaram desde segunda-feira e que vinha sendo cotada como próxima vítima da crise de crédito, fundiu-se ontem com o outrora Lloyds TSB, criando um superbanco avaliado em US$60 bilhões.

O Halifax, que tem 15 milhões de clientes e depósitos de US$469,5 milhões, tinha sido avaliado antes em US$27,5 bilhões, mas foi comprado por cerca de US$22 bilhões. A fusão poderá resultar em cortes drásticos na estrutura dos dois bancos, que incluiria a perda de 40 mil empregos ¿ um deles o do próprio presidente do Halifax, Andy Hornby ¿ e o fechamento de mil agências no Reino Unido.

Segundo o jornal ¿Times¿, a fusão teve a bênção do primeiro-ministro Gordon Brown. Na segunda-feira, Brow teria encontrado Victor Blank, presidente do Lloyds, em jantar no centro financeiro de Londres, e feito lobby por uma solução para o Halifax.

Ações da instituição despencaram quase 70%

A preocupação com o Halifax justifica-se não só por ele ser o quinto maior banco do país, mas principalmente por liderar o mercado de crédito imobiliário, com fatia de 20%, volta e meia celebrada em anúncios de TV usando funcionários como estrelas de musicais. Na segunda-feira, no dia do pedido de concordata do gigante dos EUA Lehman Brothers, as ações do Halifax, mais conhecido como HBOS por sua fusão com o Bank of Scotland, em 2001, despencaram 70%. Isso em meio ao pânico de investidores desconfiados da capacidade do banco de sobreviver e obter refinanciar dívidas de US$300 milhões.

O medo foi alimentado por um parecer da agência de cálculo de risco Standard & Poor¿s dizendo que o Halifax estava em posição mais frágil que de concorrentes para lidar com a crise. Foi preciso que a Autoridade de Serviços Financeiros (FSA) emitisse uma espécie de atestado de saúde público para a situação se estabilizar um pouco. O que ajudou foram as notícias da negociação com o Lloyds TSB: as ações na Bolsa de Londres, que terça-feira tinham chegado a 80 pence, ontem fecharam a 147p, queda de apenas 19% em relação a sexta-feira. O preço por ação pago pelo Lloyds foi de 232p.

Concentração de 30% das hipotecas pode ser contestada

O novo banco concentrará quase 30% das hipotecas do Reino Unido, o que poderá gerar objeções do Office of Fair Trading, agência antitruste. Mas Brown já teria informado às partes que usará seu poder de veto para a fusão seguir adiante.

Ao contrário do que aconteceu há um ano na crise do Northern Rock, outro banco de crédito imobiliário, o governo britânico desta vez não hesitou em ajudar numa articulação, ainda que o porta-voz de Brown tenha negado qualquer persuasão do premiê junto ao Lloyds TSB. O mesmo grupo tentara assumir o Northern Rock, mas desistiu diante da falta de apoio das autoridades. Brown acabou tendo que nacionalizar a combalida instituição em fevereiro, medida que causou mais estragos em sua popularidade.

Desta vez, o Lloyds poderá fazer uso de um fundo de emergência do Bank of England e do Tesouro Britânico. Também diferentemente do Northern Rock, ainda não houve corrida de clientes às agências do Halifax, especialmente depois de o governo ter informalmente afirmado que vai garantir os depósitos de instituições britânicas.