Título: Lula quer fronteira mais vigiada
Autor: Figueiredo, Janaína; Valle, Sabrina
Fonte: O Globo, 18/09/2008, O Mundo, p. 31

Cerca de 500 bolivianos já cruzaram para o Acre a fim de pedir abrigo

Chico de Gois e Jairo Barbosa*

BRASÍLIA e RIO BRANCO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em duas ocasiões, que o Brasil vai reforçar a fronteira do Acre com a Bolívia para evitar o trânsito de pessoas armadas, contrabando e narcotráfico, mas destacou que não irá enviar tropas ao país e que o Brasil não vai se intrometer em questões internas da Bolívia. O governo do Acre confirmou ontem que cerca de 500 bolivianos, entre eles líderes da oposição ao governo de Evo Morales, já cruzaram a fronteira e pediram abrigo no lado brasileiro.

No caso de reforço da região de fronteira, Lula afirmou que conversaria com o ministro da Justiça, Tarso Genro, para que este falasse com seu colega boliviano. Do lado brasileiro, a atuação será da Polícia Federal.

- Nem pensar em ingerência brasileira na Bolívia; muito menos tropas. No fundo, no fundo, o Brasil precisa fazer um esforço muito grande porque nós temos mais de 3 mil quilômetros de fronteira com a Bolívia e nós queremos que ela esteja em paz porque em paz ela vai crescer, em guerra não. Pedi para o Tarso ligar para o ministro da Justiça do Evo Morales para tentar estabelecer uma ação conjunta da Polícia Federal na fronteira para evitar trânsito de pessoas, de gente com armas, evitar contrabando, evitar o narcotráfico. Fora disso, nós respeitamos as decisões soberanas da Bolívia - disse Lula no programa "3 a 1" da TV Brasil, gravado ontem de manhã.

Lula também disse que, atendendo a um pedido de Morales, o Brasil poderá vender caminhões e ônibus para a Bolívia equipar seu Exército.

- A segunda coisa é que o Evo Morales me perguntou se o Brasil poderia vender alguns caminhões para eles para transportar as Forças Armadas. Eu já falei com o ministro Jobim, que vai ver com o Exército onde se compra, se se pode produzir.

Na entrevista concedida ao programa da TV Brasil, Lula comentou a decisão de Evo Morales de expulsar, semana passada, o embaixador americano na Bolívia Philip Goldberg, acusando-o de ajudar a oposição a tramar um golpe contra seu governo. Para Lula, é comum a interferência dos americanos na história da América do Sul:

- Se for verdade que o embaixador dos Estados Unidos fazia reunião com a oposição do Evo Morales, o Evo está correto de mandá-lo embora. O papel de embaixador não é fazer política dentro do país, não. Ele está como representante do seu país, numa relação de Estado com Estado, ele representa o Estado.

O presidente lembrou o episódio em que a ex-embaixadora americana no Brasil Donna Hrinak respondeu a um jornal uma crítica que ele tinha feito ao presidente George Bush:

- Aqui no Brasil, uma vez, uma embaixadora americana, em um jornal brasileiro, respondeu a uma crítica que eu tinha feito ao Bush: eu mandei o Celso Amorim chamá-la e dizer que não era admissível ela dar palpite sobre a entrevista do presidente da República. E também não é de hoje, é famosa a interferência das embaixadas americanas em vários momentos da história do continente americano. Então, eu acho que houve um incidente diplomático. se o embaixador estava tendo ingerência na política lá, o Evo está correto.