Título: Precisa de emprego? US$ 17 mil por hora
Autor: Lima, Maria; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 19/09/2008, Economia, p. 30

Você é capaz de assumir uma empresa de 158 anos em perfeitas condições e torná-la pó? Você deveria fazer como Richard Fuld, o presidente do Lehman Brothers. Ele levou para casa quase meio bilhão de dólares em compensação entre 1993 e 2007. Ano passado, ganhou cerca de US$45 milhões, de acordo com a Equilar, uma empresa que faz pesquisas sobre salários de executivos. Isso significa cerca de US$17 mil por hora. Se você é capaz de jogar uma empresa no chão por menos, então, ligue para o Lehman Brothers.

Fico feliz em anunciar que Fuld ¿ que continua a dirigir o Lehman ¿ é o ganhador do meu prêmio por baixa governança corporativa. Um dos grandes problemas nacionais é o aumento da desigualdade, exacerbada por executivos ajudando a si mesmo com o dinheiro de acionistas.

Há 30 anos, presidentes ganhavam geralmente de 30 a 40 vezes o salário de um funcionário médio. No último ano, o salário de presidentes de grandes companhias públicas foi 344 vezes maior que o de trabalhadores médios.

John McCain acredita que o problema dos executivos é ganância. É claro que são gananciosos. Todos somos. O verdadeiro problema é de governança corporativa, que permite uma vigilância muito frágil sobre a ganância de executivos como Fuld.

Estes colossais pagamentos são em parte resultado de subsídios de contribuintes. Estudo divulgado há algumas semanas pelo Instituto para o Estudo de Políticas, em Washington, encontrou cinco elementos no código tributário que incentivam o pagamento excessivo a executivos, que custam US$20 bilhões por ano. O valor é suficiente para exterminar os vermes de todas as crianças do mundo e reduzir a mortalidade materna mundial em dois terços. Realmente acreditamos que executivos merecem mais os dólares de impostos que crianças doentes?

Talvez seja compreensível que executivos sejam pagos por seu sucesso, mas por que pagar quantias extraordinárias quando fracassam? E. Stanley O¿Neal, ex-diretor executivo da Merrill Lynch, se aposentou ano passado, depois de levar a empresa para o penhasco, e saiu com US$161 milhões.

Existem amplas discussões técnicas para evitar o pagamento exagerado a executivos que devemos avançar. Podemos também aprender com Grã-Bretanha e Austrália, que oferecem mais direitos aos acionistas que os EUA.

Quanto ao senhor Fuld, infelizmente ele não quis comentar esta coluna. Recebendo US$17 mil por hora, talvez para ele não valesse perder tempo com isso.

NICHOLAS KRISTOF é colunista do ¿New York Times¿