Título: Bancos reduzem prazo e sobem juros para crédito
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 19/09/2008, Economia, p. 31

Para pessoas físicas, as operações de empréstimo consignado e venda de veículos agora também estão mais curtas

Aguinaldo Novo

SÃO PAULO. Enquanto aguardam o socorro prometido pelo BNDES, as empresas vêem sumir da praça o crédito para novos projetos. Com o agravamento da crise financeira e a escassez de linhas externas, os grandes bancos passaram a limitar os prazos de novas operações. O custo dos empréstimos também ficou mais salgado. A expectativa é que essa política restritiva seja estendida para as linhas de financiamento voltadas para pessoa física, caso o mercado não encontre um ponto de equilíbrio nos próximos dias.

Executivos do mercado financeiro relatam que até o início do mês era possível encontrar crédito, em reais, com prazos de até três anos. Ontem, na maioria das operações, as linhas oferecidas eram de até 180 dias.

- A demanda continua forte. Mas com o fechamento do mercado externo, não existe como atender a toda essa demanda. Só as linhas domésticas não são suficientes - afirmou o diretor de um banco de varejo: - É lógico que isso poderá ter impacto nos novos projetos de expansão das empresas.

Custo de captação em CDBs subiu nas últimas semanas

Os bancos dizem que a tendência também é de encurtamento de prazos na ponta da pessoa física. Depois de atingir até 90 meses, operações de crédito consignado e para venda de veículos devem retroceder para um intervalo entre 48 e 60 meses, na média do mercado.

- Mantida a incerteza atual, isso deve acontecer em até três meses - disse o vice-presidente do Bradesco Norberto Barbedo, responsável pela área de crédito.

Nos últimos dias, por causa dos sinais de indefinição sobre um desfecho para a crise, o governo prometeu blindar o país contra a falta de capital de longo prazo. A estratégia é aumentar o poder de fogo do BNDES, que tem limitações de capital. Ontem, depois de participar de evento em São Paulo, o superintendente da Área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico do BNDES, Ernani Teixeira Torres Filho, disse que o banco tem conversado com fundos soberanos estrangeiros que têm interesse em investir no país.

- O BNDES tem uma carteira enorme de investimentos e pode ser veículo para a entrada desses aportes - disse ele, explicando que essa seria uma forma de sustentar o nível de investimentos em indústria e infra-estrutura.

A maior cautela vem num momento de aumento de custos para novas captações. Bancos de grande porte têm pago o equivalente a 106% do DI na venda de Certificados de Depósito Bancário (CDB), quase três pontos percentuais acima do custo registrado na semana passada. No caso de instituições de menor porte, o "preço do dinheiro" foi a 115% do DI. Esse custo já começou a ser repassado para os tomadores de crédito. Barbedo, do Bradesco, estimou que a alta foi de 0,10% nas últimas duas semanas.

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