Título: Trabalho infantil cai pouco e inclui 4,8 milhões de crianças e jovens
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 19/09/2008, Economia, p. 34
Envolvimento com afazeres doméstico configura "terceira jornada"
Liana Melo e Letícia Lins
RIO e ESCADA (PE). São 4,8 milhões de crianças e jovens, de 5 a 17 anos, que ainda fazem parte das estatísticas do trabalho infantil. A Pnad 2007 detectou uma redução de 0,7 ponto percentual sobre 2006. Do contingente de pessoas nessa faixa etária - 44,7 milhões - o trabalho infantil representava, em 2006, 11,5%, caindo para 10,8%. Se for excluído o Norte rural, os percentuais passam a 11,1% e 10,6%, respectivamente.
O trabalho precoce é exercido por 157,1 mil crianças de 5 a 9 anos. Três quartos dessas crianças estavam ocupadas em atividades agrícolas e viviam em lares com rendimento médio domiciliar per capita de R$189.
Os jovens Josimar Dionísio, de dez anos, e Alex Mesquita, de 15, são a melhor tradução do que ocorre em Pernambuco. Os dois começaram a trabalhar na roça ajudando a família. Hoje, trocaram os facões e foices por uma caixa de isopor, cheia de picolés. É na beira da estrada de Escada, a 62 quilômetros de Recife, que eles trabalham vendendo 50 picolés por dia. Eles compram por R$0,10 e vendem o produto por R$0,25. Em Pernambuco, 307 mil pessoas de 5 a 18 anos trabalham, calcula a Delegacia Regional do Trabalho, com base na Pnad 2006.
Jornada de trabalho infantil aumenta e escolarização cai
Foram a pobreza e o desemprego que empurraram os dois para o trabalho infantil, assim como todas as crianças e jovens que fazem parte das estatísticas oficiais. Um em cada cinco crianças e jovens (19,8%) pesquisados morava em domicílios com rendimento per capita inferior a um quarto do salário mínimo.
- A redução ainda é tímida, mas, pelo menos, ocorreu entre crianças de 5 a 9 anos, idade mais frágil em relação aos riscos do mundo do trabalho. Mas precisamos ficar atentos, porque, se não houver um trabalho constante, as estatísticas podem voltar a subir - analisa Renato Mendes, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) do Brasil.
Para o economista Claudio Dedecca, da Unicamp, o trabalho infantil é um fenômeno muito mais influenciado pelas necessidades econômicas das famílias do que pela dinâmica do mercado de trabalho:
- O que me preocupa é que, desde meados dos anos 90, o trabalho infantil estagnou em torno de cinco milhões.
Segundo a Pnad, 60,7% das crianças e adolescentes ocupados no país envolviam-se com afazeres domésticos. O dado configura uma "terceira jornada de trabalho infantil" e ainda perpetua o ciclo da pobreza, diz Mendes, porque sobra menos tempo para a escola.
Este reflexo já foi detectado na taxa de escolaridade, que, entre 2006 e 2007, caiu de 81% para 80% entre a população ocupada. No grupo de crianças e jovens que não faz parte das estatísticas do trabalho infantil, a taxa subiu de 93,5% para 94%.
O IBGE também detectou que o trabalho infantil atinge, sobretudo, crianças e adolescentes do sexo masculino (65,7%) e as de cor preta ou parda (59,5%).