Título: Trabalho, sim. Mas decente
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 19/09/2008, Economia, p. 34
Para Flavio Comim, coordenador do próximo Relatório de Desenvolvimento Humano (IDH) brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), as melhorias apontadas na Pnad - de emprego e renda a questões sanitárias - podem elevar o IDH do país, que na última divulgação passou a integrar o grupo dos países com alto desenvolvimento. Mas ele alerta, contudo, que "há um longo caminho a ser percorrido pelo país".
Fabiana Ribeiro
Os avanços na Pnad terão efeitos positivos no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil?
FLAVIO COMIM: Todos os indicadores recentes nos levam a pensar de maneira otimista em relação ao IDH. Não há dúvida de que o impacto sobre áreas de saúde e renda devem se refletir positivamente no índice. Mas é bom lembrar que o IDH traz questões bastante básicas. O que se quer não é apenas criança na escola, mas que ela aprenda. Não se almeja somente que o PIB per capita cresça, mas uma distribuição de renda mais justa. E o que se busca não é trabalho, mas trabalho decente. Há ainda um longo caminho a ser percorrido pelo país.
O aumento da formalização é um dos caminhos para o desenvolvimento social?
COMIM: O emprego formal mexe com inclusão no mercado de trabalho de forma permanente. E, de alguma maneira, é reflexo de estratégia de crescimento econômico que pretende ser mais inclusivo. Mas o país precisa se concentrar ainda nos 49,3% que poderiam ter e ainda não têm cobertura previdenciária.
E como continuar o processo de queda da desigualdade no país?
COMIM: A redução da desigualdade pode vir do trabalho ou de programas de transferência de renda. O importante é que se faça com um viés para o pobre. Se no Nordeste se concentram as maiores taxas de desemprego, é para lá que devem estar as principais ações. Não se pode esquecer, no entanto, do jovem, que possui as maiores taxas de desemprego.