Título: Maioria dos lares tem acesso à rede de esgoto
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 19/09/2008, Economia, p. 34
Apesar dos avanços em saneamento, 14,8 milhões de domicílios ainda estão sem sistema sanitário adequado
Fabiana Ribeiro
A maioria dos lares brasileiros - 51,3% com o Norte rural e 52% sem - passou a contar, pela primeira vez, com rede coletora de esgoto no ano passado, apontou a Pnad. O avanço do saneamento é ainda maior quando se inclui a fossa séptica, alcançando 73,6% das residências do país (74,3% sem contar o Norte rural). Com isso, quase três milhões de novos domicílios começaram a ter acesso a algum sistema de esgoto - quase o dobro da expansão que se viu no ano anterior, de cerca de 1,5 milhão. Apesar dos números positivos, o Brasil está longe de atingir a universalização do saneamento: ainda é preciso resolver o problema de esgoto em 14,8 milhões de domicílios.
- O Brasil está progredindo na cobertura dos serviços de saneamento, que tinha estancado nas últimas décadas. A expectativa é que o atendimento e a qualidade dos serviços melhorem significativamente nos próximos anos. Isso se dará via retomada dos investimentos com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e fixação de um marco legal para o saneamento, com diretrizes nacionais - explicou Patrício Naveas, especialista em Saneamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Longe do cumprimento das metas do milênio
Na avaliação de Léo Heller, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a expansão do saneamento é positiva, mas não aproxima o país da universalização do serviço. E o atual desempenho não garantirá o cumprimento das metas do milênio da ONU - reduzir pela metade a população sem esgoto de 1990 a 2015.
- Outra questão que surge é se o sistema foi implantado de forma adequada. Ou seja: há, além de rede coletora de esgoto, tratamento de esgoto? Se não há, as medidas podem agravar a situação sanitária, causando danos à saúde pública e ao meio ambiente.
Nas contas do BID, a universalização dos serviços, especialmente no que se refere a coleta e tratamento de esgotamentos sanitários, exige investimentos de R$10 bilhões por ano, por 20 anos.
- A ligação entre saneamento, saúde e desenvolvimento humano é direta. Não há como ter boa saúde sem condições sanitárias adequadas. E não há desenvolvimento social sem boas condições de salubridade - disse Naveas, ressaltando que o Brasil está na média para saneamento e abaixo da média da região para abastecimento de água na América Latina.
No saneamento, contraste entre Norte e Sudeste
Apesar de mais que dobrar a quantidade de novos lares ligados à rede de esgoto de 2006 para 2007, o Norte continua a ter a menor parcela de domicílios com acesso ao sistema. Já o Sudeste se manteve como a única região a apresentar a parcela de casas atendidas pela rede coletora (79,4%) bem acima da média nacional (51,3%).
No Rio, há regiões onde o sistema de esgoto era inapropriado até recentemente. Elizabeth Campos, moradora de Manguinhos, conta que o sistema de saneamento básico no local melhorou desde que as obras do PAC começaram. Segundo ela, era comum encontrar esgoto correndo a céu aberto nas ruas. Junto com a melhora no escoamento, a pavimentação das ruas permitiu que as poças d"água diminuíssem, evitando que as vias ficassem cheias de lama:
- O sistema de esgoto era muito precário. Os moradores tiveram que colocar manilhas por conta própria há uns cinco, seis anos. Mas as obras estão dando um jeito nisso.