Título: Distribuição melhor tira 1,5 milhão da pobreza
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 19/09/2008, Economia, p. 35

Em 2007, o Brasil tinha 33,6 milhões de pobres, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas

Liana Melo e Cássia Almeida

A queda contínua da desigualdade, que vem desde 2001, foi a principal responsável por 1,5 milhão de brasileiros romper a linha de pobreza em 2007, o que significou uma redução de 5,6% no contingente de pobres. A queda ficou abaixo dos 15% registrados em 2006. O país continua convivendo com 33,6 milhões de pessoas que vivem com menos de R$135 por mês. Em 2006, eram 35,1 milhões de miseráveis, segundo levantamento feito pelo economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), do Rio.

A parcela de pobres caiu de 19,16%, em 2006, para 18%, no ano passado. Em 1992, essa fatia alcançava mais de um terço da população brasileira, com 34,96% dela abaixo da linha de pobreza especificada pelo economista. As projeções do Neri foram feitas com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2007), divulgada ontem pelo IBGE.

Pobreza cai mais rápido que o ritmo exigido pela ONU

Segundo o economista, só a distribuição melhor da renda explica a queda na pobreza, já que o crescimento dos salários foi bem inferior ao de anos anteriores. Pelas contas de Neri, que inclui as pessoas sem rendimento para calcular os ganhos, o salário subiu 2,3% contra os 3,2% que o IBGE mostrou ontem. Entre os 50% mais pobres, a alta do rendimento per capita foi maior: 4,23%.

Apesar da queda de 5,6% ter ficado abaixo dos 15% registrado em 2006, o ritmo de redução da miséria está, na opinião de Neri, assumindo uma velocidade duas vezes mais rápida que o exigido ao Brasil pelas Nações Unidas para atender as Metas do Milênio: 2,77%. Este ritmo também está mais acelerado que aquele observado no país desde 1993.

- Se os anos 80 ficaram conhecidos como a década da redemocratização e os 90, como o da estabilização; os anos 2000 já podem ser identificados com a década da redução da desigualdade - diagnosticou Neri, lembrando que o país, segundo o Banco Mundial (Bird), vem melhorando sua performance no ranking mundial de desigualdade, tendo caído do terceiro lugar para a décima posição, em 2005.

País explora reserva de crescimento "pró-pobre"

Segundo Neri, a melhoria na distribuição de renda nos últimos anos se assemelha à subida desse indicador nos anos 60, que levou o Brasil a ocupar as primeiras posições no ranking da desigualdade.

Ainda que considere uma má notícia o fato de o país continuar convivendo com um contingente de miseráveis, Neri está convencido de que nem tudo está perdido. É que toda má notícia vem acompanhada de uma boa notícia: ainda há muita desigualdade a ser reduzida no país e muito crescimento de renda a ser gerado na base da distribuição de renda.

- Mal comparando, é como se o Brasil tivesse descoberto, apenas neste século, as reservas de crescimento pró-pobre - diz o economista.

Neri, no entanto, chama a atenção para os números que a Pnad/2007 trouxe sobre educação. A evasão de jovens de 18 a 24 anos da escola, para ele, reflete a atratividade do mercado de trabalho mais aquecido nos últimos anos.

- Este cenário demonstra a importância de medidas e metas de aumento da qualidade de educação, como aquelas que foram embutidas no chamado PAC educacional do governo federal e no movimento Todos pela Educação da sociedade civil.