Título: Do caos à euforia, alívio nas bolsas
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 20/09/2008, Economia, p. 29

ABALO GLOBAL

Pacote nos Estados Unidos faz Bovespa ter maior alta desde 99. Dólar cai 5,13%, para R$1,831

Felipe Frisch*

Depois de cair mais de 7% em um dia e mais de 6% no outro, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve alta de 9,57% e voltou aos 53.055 pontos, no último pregão da que parecia ser a pior semana de sua história. O ganho de ontem foi o maior em um dia desde os 33,40% de 15 de janeiro de 1999, quando o país adotou o regime de câmbio flutuante. A alta foi justificada pelo anúncio do pacote do governo americano para socorrer instituições financeiras com problemas originados por hipotecas de alto risco.

O dia foi de aparente otimismo em todos os mercados. O dólar encerrou o dia em queda de 5,13%, a R$1,831, depois de fechar, na véspera, a R$1,93 no câmbio comercial (entre bancos) e a R$2 no turismo. Foi a maior queda desde 1º de agosto de 2002. O dólar turismo cedeu cerca de 4% e voltou a ser negociado a R$1,92 no Bradesco e R$1,93 no Banco do Brasil. Nas casas de câmbio, no entanto, ficou estável, a R$2,05.

Segundo analistas, o humor no câmbio melhorou com o leilão de US$500 milhões feito pelo Banco Central (BC) para dar liquidez ao mercado. Foi a primeira vez que o BC vendeu dólares desde fevereiro de 2003. O BC associou a venda a uma recompra futura, garantindo que não perderá reservas.

A expectativa de analistas é que o BC continue atuando - embora não tenha anunciado novos leilões - enquanto a elevada volatilidade se mantiver. A operação de ontem, limitada a US$100 milhões por instituição, foi feita em duas etapas: uma pela manhã e outra à tarde. Às 11h, o BC vendeu US$200 milhões, a R$1,838, com compromisso de recompra em 23 de outubro por R$1,851. Às 15h, vendeu mais US$300 milhões, a R$1,827, com recompra a R$1,839. Na semana, a moeda americana subiu 2,81%.

Para o diretor-executivo de câmbio da NGO Corretora, Sidnei Nehme, a medida do BC deve diminuir a aposta na alta da moeda americana nos contratos negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).

Frente à moeda japonesa, o iene, o dólar subiu 1,7% em Nova York, a maior alta desde 1º de abril. Em relação ao euro, o dólar caiu 0,9%, para US$1,4477 por euro. A moeda européia também subiu 2,6% frente ao iene, para 155,27 ienes.

Mercado europeu tem altas recordes

Com o otimismo do dia, nenhuma ação das 66 que compõem o Ibovespa teve queda no dia, ao contrário do que aconteceu na quarta-feira, por exemplo, quando todas caíram. A recuperação de ontem fez a Bolsa encerrar a semana em alta de 1,26%.

- É mais barato gastar US$1 trilhão socorrendo bancos do que deixar o sistema financeiro global quebrar, para o contribuinte inclusive - diz Álvaro Bandeira, economista-chefe da corretora Ágora.

Ele reconhece que o pacote do governo americano não resolve a crise, mas ajuda a diminuir a volatilidade. A expectativa agora é pelos detalhes do plano, que podem ser anunciados no fim de semana.

Também após uma semana de quedas, as bolsas européias encerraram a semana com as maiores altas em um único dia da História. Em Londres, a alta foi de 8,84%, em Paris, de 9,27% e, em Frankfurt, de 5,56%. Já em Nova York, o Dow Jones subiu 3,35%, o Nasdaq, 3,40%. Na Ásia, a Bolsa de Hong Kong subiu 9,6%.

A melhora do humor começou pela manhã, com a injeção de novos recursos pelos bancos centrais de diversos países. Japão, Austrália, Índia e Indonésia emprestaram mais de US$42 bilhões aos bancos em seus mercados. A Inglaterra liberou US$40 bilhões, mas houve demanda para apenas metade do montante. O Banco Central Europeu (BCE) também ofereceu US$40 bilhões. O Federal Reserve (Fed, o BC americano) anunciou que colocou mais US$20 bilhões em reservas temporárias no sistema financeiro. Houve demanda de US$55,1 bilhões, segundo o Fed de Nova York.

(*) Com agências internacionais