Título: Palpiteiros de outrora agora pedem ajuda
Autor: Martin, Isabela; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 20/09/2008, Economia, p. 35

Bancos avaliaram mal o Brasil

Ao lamentar anteontem as dificuldades financeiras dos "palpiteiros", Lula se referiu aos mesmos bancos americanos que, em 2002, recomendaram que se investisse menos nos títulos da dívida do governo brasileiro por causa do risco de que o então candidato do PT vencesse as eleições. Passados seis anos - com a economia do país crescendo 6% no primeiro semestre -, Lula, que ironizou a quebradeira de bancos que diziam o que o Brasil deveria fazer, vinga-se de seus algozes. E repete o mantra da época: "Em nosso país, gringo não manda".

Nesta semana, o Merrill Lynch foi vendido por US$50 bilhões ao Bank of America, valor considerado uma barganha. O Goldman Sachs, que chegou a criar o "lulômetro" - numa suposta referência para medir o risco que o candidato representava sobre o dólar -, viu suas ações despencar. Já o Morgan Stanley é citado como "a bola da vez" nos EUA.

Outra instituição que pode vestir a carapuça é o JP Morgan. Além de ter rebaixado os títulos do país em 2002, mede o risco de se investir em cada região. Quanto mais alta a pontuação, maior o risco do investidor. Hoje aos 278 pontos, o Brasil chegou a medir 2.400 em 2002.

Os relatórios dos bancos despertaram críticas até do então ministro da Fazenda, Pedro Malan. Ele lembrou que as mesmas instituições não previram a crise asiática, em 1997, e a desvalorização cambial no México, em 1995. O Goldman Sachs errou ainda em relação à bancarrota da Enron: um mês antes, divulgou um relatório cujo título era algo como "Ainda a melhor entre as melhores". Deu no que deu. (Juliana Rangel)