Título: Proer socorreu depositantes e criou seguro
Autor: Martin, Isabela; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 20/09/2008, Economia, p. 35

Programa brasileiro foi criado em 95 porque bancos perderam receita com queda da inflação

Aguinaldo Novo

SÃO PAULO. O mercado financeiro que vai emergir da crise será bem diferente da atual estrutura. Mais regulado e fiscalizado, deverá seguir limites rigorosos para operações e não terá espaço para a ação dos bancos de investimento independentes, como Lehman Brothers e Bear Stearns, que quebraram sob o peso de uma excessiva alavancagem.

A avaliação é do economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, que faz uma relação entre o pacote de ajuda financeira do governo americano e o Proer brasileiro. Implementado entre 1995 e 1997, o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional visou ao socorro dos bancos brasileiros que perderam receita com o fim da inflação.

- Como aconteceu antes no Brasil, o Fed agiu para evitar que uma crise de desconfiança contaminasse todo o mercado - afirmou ele.

egundo Loyola, o Proer representou "uma primeira ponta" para as mudanças que se seguiram na supervisão bancária. Houve a criação de mecanismos como o seguro para depósitos, mudanças em várias legislações e a privatização de bancos estatais, focos históricos de problemas contábeis.

- A expectativa é que isso aconteça agora nos outros países, principalmente nos EUA, foco dessa crise. Não sei se o dinheiro investido no socorro será suficiente, mas um passo importante foi dado - afirmou Loyola, que hoje trabalha na consultoria Tendências.

O pacote brasileiro só para os bancos privados envolveu a liberação equivalente a US$20 bilhões em empréstimos. Segundo Loyola, foram socorridos os credores (principalmente os pequenos depositantes), e não os acionistas (que tiveram os bens pessoais arrolados como garantia dos financiamentos). Ex-banqueiros mantêm até hoje ações na Justiça comum, questionando a intervenção feita pelo BC - com ganhos em algumas instâncias.

- O efeito colateral desse tipo de ajuda é o uso de recursos públicos. Mas em momentos de grande tumulto, você não consegue mais distinguir entre inocentes e culpados, e é preciso agir para evitar a deterioração do sistema - disse Loyola, réu em parte daquelas ações.