Título: Fim de jogo para a crise
Autor: Martin, Isabela; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 20/09/2008, Economia, p. 35

No domingo, Henry Paulson, secretário do Tesouro, tentou criar uma barreira contra novas operações de salvamento de instituições financeiras falidas. Quatro dias depois, com a crise saindo de controle, muitos de Washington parecem ter definido que o governo não é o problema, é a solução. O impensável ¿ que o governo comprasse ativos podres privados ¿ se tornou inevitável. Até agora, o choque real depois que os bancos centrais deixaram de socorrer o Lehman Brothers não foi a queda no Dow Jones, foi a reação dos mercados de crédito. Basicamente, os concessores de crédito entraram em greve: a dívida do governo americano teve a demanda ampliada rapidamente, mesmo que pague praticamente nada.

Bancos normalmente se dispõem a emprestar uns aos outros por taxas superiores à dos títulos do Tesouro. Mas, na quinta-feira, a taxa média do empréstimo interbancário de três meses era de 3,2%, enquanto a dos treasuries correspondentes era 0,05%. Este vôo para a segurança interrompeu o crédito para muitos negócios ¿ e isso está nos levando a maiores perdas e mais pânico. E o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que lidera a luta contra recessões, não pode fazer muita coisa desta vez porque o nível dos instrumentos de política monetária perdeu a capacidade. Normalmente, o Fed responde com a compra de títulos do Tesouro para levar os juros para baixo. Mas com a taxa dos treasuries em quase zero, o que o Fed pode fazer?

Bom, o Fed pode emprestar dinheiro para o setor privado, o que tem feito em escala estrondosa. Mas não tem impedido a situação de se deteriorar. Há um lado positivo: os juros das hipotecas caíram desde que o governo assumiu a Fannie Mae e Freddie Mac. E há uma lição aqui: a aquisição de controle pelo governo pode ser o único caminho para o sistema financeiro voltar a funcionar. Na quinta-feira, Ben Bernanke (presidente do BC americano) e Paulson se encontraram para discutir uma¿abordagem compreensiva¿ para o problema.

Têm havido algumas esperançosas comparações com o resgate do governo sueco nos anos 90, que envolveu o controle público de parte do sistema financeiro do país. O governo sueco gastou 4% do PIB, o que no nosso caso seria algo como US$600 bilhões. Mas não adianta choramingar sobre o plano de resgate financeiro. A grande aquisição de controle virá. A questão é se será feita de forma correta.

PAUL KRUGMAN é colunista do ¿New York Times¿