Título: Boletim da violência
Autor: Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 22/09/2008, O País, p. 3
Escolas em áreas de risco diminuem desempenho dos alunos e são desafio para os candidatos
Luiz Ernesto Magalhães
Os problemas na rede de ensino da prefeitura do Rio vão além da polêmica sobre a manutenção ou não da aprovação automática (sistema de ciclos), principal tema explorado pelos candidatos à sucessão de Cesar Maia. As 1.062 escolas e 413 creches que formam a maior rede municipal do país são marcadas por contrastes. Em áreas mais carentes, principalmente na Zona Oeste, as dificuldades para lotar professores devido à distância e a violência em confrontos envolvendo polícia, tráfico ou milícias nas proximidades dessas instituições afetam o rendimento escolar. É o que conclui um cruzamento de informações feito pelo GLOBO com uma pesquisa do economista Mauro Osório, especialista em estudos sobre o Rio.
O economista comparou os resultados de 2007 do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Ministério da Educação para alunos até o quarto ano (calculado pelo desempenho em testes de português e matemática) para demonstrar as diferenças de atuação. Das dez escolas de menor rendimento, nove ficam em áreas de risco. A nota atribuída a elas pelo Ideb ficou entre 2,7 (Dalva de Oliveira, em Realengo) e 3,1 (três instituições). Os conceitos estão bem abaixo da média da própria rede (4,1), a sexta entre as capitais na faixa até 4 anos. No caso da última colocada, a nota é quase três vezes menor que a obtida pela primeira colocada (Escola João de Deus, na Penha Circular, com 6,9).
- Como no Rio esse problema está associado à violência, está claro que a intranqüilidade afeta o rendimento dos alunos. Mas para resolver isso a prefeitura tem que se articular com o estado a fim de combater a violência - disse Osório.
Professores evitam áreas de risco
O pesquisador acrescenta que em conversas com técnicos da Secretaria de Educação confirmou que a escola estar ou não em área crítica pesa na hora em que um professor concursado decide onde vai lecionar. Sem citar casos específicos, a secretária municipal de Educação, Sônia Mograbi, por sua vez, admite problemas com a violência, mas nega dificuldades para lotar professores nessas escolas em comparação com as demais.
- A violência afeta o processo pedagógico, baixa a auto-estima e constrange alunos, professores e demais funcionários. As direções possuem autonomia para avaliar a situação e decidir sobre o fechamento em caso de situação de risco - disse Sônia.
Em Realengo, os constantes tiroteios nas favelas vizinhas causam tensão entre alunos e funcionários da Dalva de Oliveira. Ao longo dos anos, a escola teve, diversas vezes, que suspender aulas ou adiar saída de alunos devido a confrontos, inclusive entre traficantes e milicianos.
Já em Vila Isabel, está na lista a Escola Mário de Andrade vizinha ao Morro dos Macacos, que já foi considerada uma das melhores do Rio. Na Cidade de Deus, fica o CIEP Luiz Carlos Prestes, o segundo pior desempenho. Em fevereiro, início do ano letivo, as aulas em tempo integral tiveram que ser suspensas por falta de professores. Segundo moradores, eles não querem trabalhar no local devido ao medo da violência.
- Muitas turmas ainda estão sem professores de português - diz o presidente da União Comunitária da Cidade de Deus, José Neves.
A violência se soma a outros problemas. Em abril, o Tribunal de Contas do Município (TCM) estimava o déficit de professores em 13.073, sendo que desse total 11.824 vagas eram cobertas pela dupla regência. Em 2007, segundo o TCM, a prefeitura também não investiu os 25% de suas receitas próprias (como IPTU e ISS), como determina a Constituição.
oglobo.com.br/pais/eleicoes2008