Título: Tesouro dos EUA pede pressa na aprovação de socorro bilionário
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Fonte: O Globo, 22/09/2008, Economia, p. 20

Secretário diz que bancos estrangeiros podem ser incorporados ao pacote

WASHINGTON, NOVA YORK, CHARLOTTE e LONDRES. O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, tornou-se ontem o garoto-propaganda do plano arquitetado pela Casa Branca para socorrer o sistema financeiro. Um dia após o presidente dos EUA, George W. Bush, anunciar que o pacote custaria até US$700 bilhões aos contribuintes americanos, Paulson foi a quatro programas de TV para pedir rapidez na aprovação da proposta pelo Congresso.

- Os mercados de crédito permanecem muito frágeis e congelados - afirmou Paulson em entrevista à emissora de TV NBC. - Estou confinante que o Congresso vai agir, e agirá rapidamente.

O secretário afirmou que instituições estrangeiras em dificuldade que tenham negócios nos EUA poderão ser incorporadas ao socorro bilionário. Pela proposta encaminhada ao Congresso no sábado, a ajuda seria restrita àquelas com sede nos EUA.

- Se uma instituição financeira tem operações nos EUA, emprega pessoas nos EUA, e se eles enfrentam problemas com a falta de liquidez de seus ativos, eles têm o mesmo impacto sobre o povo americano que qualquer outra instituição - disse Paulson à rede ABC.

EUA: outros países devem adotar plano semelhante

Ele reconheceu que "o contribuinte está em risco", mas argumentou que o custo da ajuda emergencial não vai superar os US$700 bilhões previstos no plano. Medidas já tomadas pelo governo americano para frear a crise, porém, já superam aquele montante. Entre elas estão a injeção de US$200 bilhões nas gigantes de refinanciamento hipotecário Fannie Mae e Freddie Mac, com o objetivo de fortalecer o setor imobiliário e o empréstimo de US$85 bilhões à seguradora AIG.

Em seu périplo pelas emissoras de TV americanas, Paulson também afirmou que os EUA estão encorajando outros países a adotar planos de estabilização financeira semelhantes.

Ao longo do fim de semana, parlamentares continuaram a discutir a proposta de Bush. A percepção no Congresso é que há urgência na sua aprovação, mas líderes democratas querem "reciprocidade" nas medidas, de modo que não apenas Wall Street seja beneficiado, mas também o cidadão americano. Os congressistas asseguraram, porém, que a idéia não é propor muitas emendas à proposta.

- Não vamos fazer da proposta uma árvore de natal. O tempo urge - disse à Fox News o senador democrata Charles Schumer.

Em comício em Charlotte, na Carolina do Norte, o candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, chamou de "assombroso" o custo do socorro e pediu proteção aos contribuintes. Ao canal de TV CNN, o assessor econômico do candidato republicano John McCain, Douglas Holtz-Eakin, defendeu mecanismos para "disciplinar o setor privado."

Um ponto que ainda não está claro é de que forma vai se dar a compra dos ativos podres dos bancos. Em entrevista à NBC, Paulson disse que eles seriam comprados por um preço mais baixo que o de mercado e revendidos no futuro. Dessa forma, as instituições deixariam de lançar tais ativos em seus balanços, o que facilitaria o acesso ao crédito necessário para que eles se reerguessem.

Premiê britânico defende funcionários do Lehman

Para alguns analistas, a venda a preços muito baixos exigiria que tais instituições fizessem grandes provisões, o que poderia dificultar a captação de recursos no mercado financeiro.

No fim de semana, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, saiu em defesa dos 4,5 mil funcionários da divisão européia do Lehman Brothers. Ele quer que os EUA devolvam US$8 bilhões da filial que foram transferidos para a sede, em Nova York, pouco antes de o banco pedir concordata, na última segunda-feira. Ontem, o jornal japonês "Mainichi" disse que a corretora japonesa Namura estaria interessada nos negócios do banco na Ásia. A compra dos ativos do Lehman nos EUA foi acertada com o Barclays.

oglobo.com.br/economia