Título: Ensaio geral para a Casa Branca
Autor: Pear, Robert
Fonte: O Globo, 22/09/2008, O Mundo, p. 25

Equipes de candidatos já se preparam para a transição

Robert Pear

Embora detestem falar sobre o assunto, os senadores John McCain e Barack Obama estão planejando discretamente o que fazer nos frenéticos 77 dias entre a data da eleição presidencial e o dia da posse, em 20 de janeiro de 2009, para estarem prontos para tomar as rédeas do governo.

Segundo os democratas, John Podesta, chefe de gabinete do então presidente Bill Clinton, está à frente da preparação para a transição de Obama. Podesta é presidente do Centro para o Progresso Americano, entidade que espera pela recuperação do poder pelos democratas. Na campanha de McCain, o trabalho de transição está sendo coordenado por William Timons, um antigo lobista de Washington, cujos clientes incluíam o Instituto de Petróleo Americano e a companhia de hipotecas Freddie Mac.

Clay Johnson III, vice-diretor do Escritório da Casa Branca para Administração e Orçamento, disse que ¿a equipe da Casa Branca se encontrou com representantes da transição¿ de McCain e Obama.

Analistas: ideal é antecipar planos

Acadêmicos, historiadores e ex-funcionários da Casa Branca dizem que os planos de transição deveriam ter começado meses atrás. Com o país em guerra e a crise nos mercados financeiros, ¿planejamento antecipado para a transição é mais importante do que nunca¿, disse Martha Kumar, professora de ciências políticas da Universidade Towson em Maryland e diretora do Projeto de Transição da Casa Branca. Preocupado com isso, Obama disse ontem que pode ter o secretário do Tesouro de Bush, Henry Paulson, na sua equipe de transição:

¿ É importante nos assegurarmos de que aqueles que estão encarregados do que diz respeito à crise financeira, à defesa e à inteligência estejam profundamente envolvidos no processo de transição.

Especialistas em segurança nacional acreditam que inimigos dos EUA tentarão tirar vantagem do clima de incerteza na transição, que ocorre pela primeira vez desde os ataques de 11 de setembro de 2001.

¿ Em cada transição existe um vácuo de poder que dura de três meses a um ano ¿ afirmou John Lehman, ex-secretário da Marinha e membro da equipe de transição de McCain. ¿ É amedrontador. No 11 de Setembro, o presidente Bush tinha somente 30% de seus nomeados para a segurança nacional ocupando os respectivos cargos, e aquilo ocorreu oito meses após a posse.

Terror tira vantagem de vácuos de poder

Elaine Duke, subsecretária de Segurança Interna, disse que seu departamento está ¿equilibrado e pronto¿ para trabalhar com as equipes de McCain e Obama no plano de transição antes da eleição, em 4 de novembro. Mas negou ter sido contactada por quaisquer das equipes. Segundo ela, planejamento é essencial porque ¿terroristas consideram transições de governos períodos de grande vulnerabilidade.¿ Ela citou como exemplos o atentado a bomba contra o World Trade Center cinco semanas após Clinton assumir, em 1993; os ataques da al-Qaeda no metrô de Madri três dias antes das eleições na Espanha; e os ataques com carros-bomba em Londres e Glasgow poucos dias após a posse do novo premier britânico em 2007.

Democratas e republicanos concordam que precisam aprender com tais episódios. Para ambos, a tarefa mais urgente será a escolha da equipe principal da Casa Branca, incluindo um diretor de pessoal, mesmo antes da nomeação de membros do Gabinete.

¿ Selecionar os principais assessores da Casa Branca é o passo mais importante que um presidente eleito pode dar para conferir identidade, disciplina e clima à nova gestão ¿ disse Harrison Wellford, que foi assessor do presidente Jimmy Carter (1977-81) e aconselha os democratas nas transições desde 1976.

Nos EUA, existem mais de 1.100 postos no Executivo nomeados pelo presidente e confirmados pelo Senado. Johnson disse que um novo presidente nunca teve mais de 25 secretários ou vice-secretários nomeados confirmados pelo Senado antes do dia 1º de abril. No mundo pós-11 de Setembro, diz, o objetivo deve ser ter ao menos cem assessores nos cargos até abril e 400 confirmados até agosto.

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