Título: Oposição rechaça nova proposta de Morales
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Fonte: O Globo, 22/09/2008, O Mundo, p. 26
Governo oferece mais autonomia, mas opositores não assinam acordo e exigem prazo maior para debater
COCHABAMBA, Bolívia. A negociação para a superação da crise política na Bolívia e a pacificação do país se complicou ainda mais ontem, com a oposição rechaçando um novo acordo proposto pelo governo de Evo Morales e exigindo mais tempo de negociação.
O processo de diálogo aberto na cidade de Cochabamba entre governo e oposição com o objetivo de pôr fim à crise que polarizou a Bolívia e deixou o país à beira do caos entrou ontem em seu quarto dia de discussões, sem que se chegassem a acordos significativos sobre os principais temas. Morales esperava um acordo já ontem porque hoje vai para Nova York, onde participará da Assembléia Geral da ONU. Sem avanços significativos, o governo acusou a oposição de querer protelar o entendimento para fazer fracassar as negociações.
- Devemos lamentar, mais uma vez, a falta de disposição dos governadores para pacificar o país e manter a unidade nacional - disse Iván Canelas, porta-voz do governo.
O presidente apresentou aos governadores opositores uma nova proposta de acordo para que o Congresso Nacional possa aprovar, já no próximo dia 1º, a convocação do referendo para ratificar a nova Constituição. A Carta aprofunda a nacionalização da economia, dá mais poderes à maioria indígena e avança com a reforma agrária. Por isso, enfrenta forte oposição.
Oposição quer cumprir prazo de 30 dias
No entanto, segundo Iván Canelas, o novo acordo proposto pelo governo incluiria "as modificações necessárias" para viabilizar o regime mais autônomo que defendem as regiões opositoras de Beni, Pando, Tarija, Santa Cruz e Chuquisaca - as mais ricas do país em razão do gás e do petróleo. Tornar compatível a maior autonomia com a nova Constituição é um dos temas centrais das discussões.
- O que o país quer hoje é um primeiro acordo para pacificar, para gerar condições de chegarmos à convocação do referendo em melhores condições e o mais breve possível - afirmou o vice-ministro da Descentralização, Fabian Yaksic.
Mas os governadores anunciaram que não concordam em fixar uma data tão próxima para aprovar a convocação do referendo. Segundo o governador do departamento de Tarija, Mario Cossío, é preciso cumprir os prazos acordados inicialmente para que as mesas de diálogo concluam seu trabalho.
- Há um prazo de 30 dias para discutir os temas e não acredito que estejamos em condições, hoje, de assinar algo que significa a aprovação, às cegas, de um texto constitucional - afirmou Cossío.
Outro tema crucial das negociações é a distribuição da renda procedente do Imposto Direto dos Hidrocarbonetos (IDH). O acordo alcançado nas negociações prevê o uso de parte desses recursos para o pagamento das pensões de idosos. Mas prevê também que a verba excedente seja devolvida aos governos regionais de origem.
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