Título: Era uma vez a Coreia
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 27/05/2009, Mundo, p. 18

Até 1948, as duas Coreias eram uma Coreia. Por seus 220.231km2 de área (menor que Roraima) passaram muitos povos. Mongóis, manchus, chineses e japoneses dominaram a península por séculos. O Japão chegou lá em 1904. Quatro anos depois, transformou o país em colônia. Impôs língua, costumes e tradições. Integrou a produção agrícola e industrial à economia nipônica. Os coreanos resistiram. Foram esmagados. Mas grupos antijaponeses continuaram a atuar no exílio. Entre eles, o Partido Comunista Coreano (PCC), apoiado pela União Soviética.

Veio a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O Japão deu adeus à colônia. A Coreia despediu-se da unidade. Viu-se dividida em duas zonas de ocupação. Uma americana, ao sul. Outra soviética, ao norte. As tropas soviéticas penetraram pelo norte. As americanas, pelo sul. Dirigentes do PCC, exilados na URSS, assumiram posição de comando na zona setentrional. Em 1947, a ONU pôs fim ao regime de ocupação e reunificou a península. Era hora de escolher um só governo. Determinou a realização de eleições. O sul acatou a decisão. O norte boicotou-a. Os dois lados organizaram seus governos. A reunificação fracassou. Em 1948, nasceram dois Estados distintos. Um, capitalista. É a República da Coreia (ou Coreia do Sul). A capital ficou em Seul. Outro, socialista: a Coreia do Norte, com capital em Pyongyang.

As tropas americanas deixaram Seul em 1949. Um ano depois, a Coreia do Norte invadiu a Coreia do Sul. Objetivo: unificar o país sob o regime comunista. Forças da ONU, formadas por tropas dos EUA, lançaram o contra-ataque. Em setembro, ocuparam a Coreia do Norte. Atingiram a fronteira com a China em novembro. A China, armada pela União Soviética, entrou no conflito em socorro dos norte-coreanos. Pequim tomou Seul em 1951.

Os americanos reagiram. Em dois meses, empurraram chineses e norte-coreanos de volta ao Paralelo 38 (a linha que separa as Coreias). Combates seguiram por dois anos. Em 27 de julho de 1953, a ONU assinou trégua com a Coreia do Norte. Um armistício, não a paz. Ficou estabelecida uma zona desmilitarizada de 4km entre as Coreias. A guerra terminou. O saldo: um milhão de civis sul-coreanos mortos. As negociações de paz começaram no ano seguinte em Genebra (Suíça).

Fracassaram. Tratado de paz nunca foi assinado. As relações entre as duas irmãs são hostis. A ameaça de confronto alimenta o programa nuclear da Coreia do Norte. A Coreia do Sul mantém 35 mil soldados americanos em seu território. Vive sob tensão. A terra da manhã serena, primeiro nome do país, continua sonho remoto.