Título: Conselho de Segurança da ONU discute hoje a crise
Autor: Scofeild Jr., Gilberto; Martins, Marília
Fonte: O Globo, 25/09/2009, O Mundo, p. 31
Embaixador brasileiro integra comissão preparatória da OEA que desembarca na capital hondurenha
BRASÍLIA e PITTSBURGH. Enquanto manifestantes pró e contra o presidente Manuel Zelaya saem às ruas de Tegucigalpa, uma intensa movimentação diplomática busca a melhor estratégia para tirar Honduras da crise. A Presidência do Conselho Permanente das Nações Unidas realiza hoje uma reunião com os 15 países-membros da entidade sobre o pedido de análise do caso Honduras feito pelo Brasil. O embaixador do Brasil nos EUA, Antonio Patriota, afirmou que nesta discussão se marcará a reunião formal do organismo ¿ provavelmente segunda ou terça-feira ¿ e se decidirá o teor do documento a ser apresentado.
¿ Existem três possibilidades, que vão da adoção de uma resolução, o ato mais forte, até a declaração da Presidência do Conselho ou uma simples manifestação dos membros.
Acreditamos que uma declaração da Presidência deva ser adotada.
No documento, o Conselho de Segurança pode anunciar medidas como o embargo de armas, limites ao deslocamento dos governantes ou o uso da força, recursos adotados quando falham os esforços diplomáticos. Em alguns casos, como ocorreu no golpe de Estado no Haiti que derrubou o governo do presidente Jean-Bertrand Aristide, em 1991, a simples menção do uso da força pela ONU pode fazer recuar o governo golpista.
Além disso, o Itamaraty anunciou para hoje a chegada a Honduras de uma missão preparatória da Organização dos Estados Americanos (OEA), que tenta mediar negociações entre os golpistas e o presidente deposto Manuel Zelaya. A comitiva tem apoio do Brasil, que enviará seu embaixador na entidade, Ruy Casaes. O grupo vai promover as primeiras conversas antes da missão chefiada pelo secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, que chegará nos próximos dias.
¿ Não vamos fazer o mesmo da missão anterior. Já escutamos a todos, agora nos cabe promover a mesa de negociação ¿ disse Insulza.
Zelaya revela primeiro contato com governo golpista Para o embaixador Ruy Casaes, a única solução que a missão da OEA aceitará para dar fim à crise é a restituição do presidente deposto Manuel Zelaya ao poder: ¿ A única solução que a OEA aceita para este impasse é a volta de Manuel Zelaya para o poder. Não há outra.
O Brasil decidiu investir na mediação da OEA para encerrar o cerco à embaixada em Honduras, onde o presidente deposto está abrigado desde segunda-feira. O subsecretário-geral do Itamaraty para a América do Sul, embaixador Enio Cordeiro, disse que o governo conta com a entidade na busca por uma solução definitiva.
Segundo Zelaya, houve um primeiro encontro com um funcionário do governo golpista na noite de quarta-feira.
Ele disse que não houve progressos, mas que esse era o início de negociações pacíficas. E, na noite de ontem, o presidente deposto encontrou-se, dentro da embaixada, com os principais candidatos à Presidência nas eleições de novembro: Bernard Martinez, Elvin Santos, Porfirio Lobo e Felicito Avila.
Para facilitar a volta da normalidade a Honduras, a OEA e a União Europeia decidiram devolver seus embaixadores a Tegucigalpa. Também retornam os embaixadores dos países da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba). Por outro lado, o FMI aumentou a pressão sobre Honduras ao anunciar que não reconhece outro presidente que não seja Zelaya, o que fecha as portas a verbas ao país. (Gilberto Scofield Jr., Marília Martins e Bernardo Mello Franco)