Título: Na CPI, o controle é do governo
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 27/09/2009, O País, p. 3

Com ajuda de funcionários da estatal, aliados neutralizam investigação

BRASÍLIA. Com a presidência, a relatoria e a maioria dos votos, os governistas conseguiram até o momento neutralizar qualquer pretensão investigativa da oposição na CPI da Petrobras. Ainda que a estatal mantenha em alerta um pequeno batalhão de assessores, a base aliada já não disfarça o sucesso da estratégia e mal se faz presente nos depoimentos. Sem a esperada repercussão ou fatos novos, restou à oposição reconhecer, por enquanto, que a comissão dificilmente conseguirá quebrar sigilos ou convocar personagens para detalhar as irregularidades já conhecidas que resvalam no governo e no PT.

A estratégia de controle tem três eixos: ritmo rápido, escopo limitado e pouca visibilidade.

O resultado faz a CPI se assemelhar a um grupo de trabalho técnico, não fossem os insistentes protestos dos três oposicionistas: Álvaro Dias (PSDB-PR), Sérgio Guerra (PSDB-PE) e Antonio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA).

Para lidar com o trio, o governo escalou o líder Romero Jucá (PMDB-RR), que baniu a hipótese de reação dos adversários: cada reunião é arquitetada previamente e os depoimentos contam com blindagem.

Já viraram motivo de ironia as interrupções de Jucá, no meio de uma inquirição de outro senador, para ¿explicar melhor¿ o que o convidado está querendo dizer. Quando Jucá tentou censurar questionamentos mais espinhosos de Álvaro Dias, foi acusado de falta de isenção pelo senador: ¿ O senhor está tentando cassar o meu mandato! Tenho direito de fazer as perguntas que quiser. Já sabemos que não constará em seu relatório nada que não interesse ao governo.

Jucá traçou um plano de trabalho que segue à risca ¿ independentemente da chegada da documentação que embasa cada assunto. Cada reunião é precedida por uma preparatória e a Petrobras participa. A proximidade não causa constrangimento: gerentes da estatal que depuseram na semana passada recusaram a sala de espera e utilizaram a da liderança do PT.

Quando a oposição utilizou outra comissão para perturbar o Planalto ¿ ao convocar, sorrateiramente, a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, para falar sobre seu encontro secreto com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff ¿, Jucá deu o troco. Derrubou de uma só vez um bloco de 70 requerimentos da oposição na CPI.

A visibilidade foi restringida pelo horário das sessões. Nas tardes de terça não há cobertura pela TV Senado e a reunião é obrigatoriamente interrompida por votações no plenário.

Com audiência baixa, nem a maioria aliada faz muita questão de comparecer.

A cobertura jornalística é monitorada por assessores da Petrobras, que acompanham conversas entre repórteres e fontes.