Título: Puccinelli, governador que xingou Minc, é colecionador de polêmicas
Autor: Yafusso, Paulo
Fonte: O Globo, 27/09/2009, O País, p. 4

No currículo, bate-boca com servidores em praça pública e defesa de ruralistas

CAMPO GRANDE. De político obstinado em resolver problemas do estado a protagonista de um bate-boca público com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), coleciona polêmicas desde que foi prefeito de Campo Grande, em 1997.

À época, rodava pela cidade dirigindo um Fiat Uno vermelho para vistoriar o funcionamento dos órgãos municipais e cobrar trabalho dos servidores.

Numa dessas investidas, parou num posto de saúde e descobriu que um médico tinha faltado ao trabalho. Como é formado em medicina, passou a atender os pacientes e deu ordens para que fossem procurar imediatamente o profissional.

Ficou no posto até a chegada do médico, que recebeu severa bronca.

O governador que chamou Minc de ¿veado¿ e ameaçou estuprálo tem na sua origem o sangue quente do Mediterrâneo: nasceu na cidade de Viareggio, na Itália, e veio com menos de 1 ano de idade para o Brasil. Formou-se em medicina no Paraná e especializou-se em cirurgia geral. Aos 60 anos, é casado e pai de três filhos ¿ dois advogados e uma médica ¿, e é também produtor rural, dedicando-se ao plantio de laranjas e à criação de gado.

Tido como truculento pelos adversários, Puccinelli raramente evita enfrentar manifestações contra seus atos no poder.

Ainda como prefeito de Campo Grande, ele enfrentou pessoalmente uma greve dos professores. Ao chegar ao Paço Municipal, deparou-se com um grupo de manifestantes.

Desceu do carro e iniciou um bate-boca, no qual avisou que os grevistas sem estabilidade no emprego seriam demitidos.

Não foi blefe. Logo em seguida, demitiu 30 professores.

O presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), Jaime Teixeira, lembra de outro episódio. Em 2007, já como governador, Puccinelli se recusou a pagar aos professores grevistas o adicional de 20% por regência de classe, conforme lei aprovada pelos deputados. A federação entrou com ação na Justiça, com pedido de liminar.

¿ Na época, ele (Puccinelli) disse publicamente que cortaria o saco se conseguíssemos a liminar. Não conseguimos, mas ele acabou pagando o adicional ¿ diz o sindicalista.

O presidente da Federação da Agricultura do estado, Ademar da Silva Júnior, produtor rural como Puccinelli, afirma que uma das qualidades do governador é a determinação: ¿ É um político pragmático, obstinado, que busca resolver os problemas do estado. É um homem decidido que sabe o que quer e, muitas vezes, é preciso ser enérgico para solucionar os problemas do estado.

Como no caso da briga com Minc, ofendido por causa das restrições do Ministério do Meio Ambiente à produção de cana-de-açúcar no Pantanal, Puccinelli costuma ser ostensivo na defesa do agronegócio no estado. No primeiro semestre deste ano, saiu em defesa dos ruralistas quando a Funai, através de portaria, criou grupos de trabalho para levantar possíveis áreas dos índios guarani-caiuá na região sul do estado.

Conseguiu retardar o início dos trabalhos.

Adversário político histórico de Puccinelli, o ex-governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, não se esquece da derrota por apenas 411 votos na disputa pela prefeitura de Campo Grande, em 1996.

¿ E n f r e n t amos uma campanha de terror.

A turma do André (Puccinelli) dizia que éramos comunistas, que éramos contra os homossexuais e os evangélicos ¿ disse o petista.

Recentemente, Puccinelli tentou o apoio do PT para a eleição estadual e, por pouco, não provocou um racha entre os petistas. A ideia era afastar Zeca do PT da disputa pelo governo do estado. O petista garante que, em 2010, ¿só Deus¿ o faz desistir de concorrer para governador. Ele deve ser lançado pelo PT para enfrentar o próprio Puccinelli, que tentará a reeleição.

¿ André não tem companheiros, apenas serviçais ¿ diz Zeca do PT.

O ex-governador Pedro Pedrossian diz achar que Puccinelli tem dupla personalidade: ¿ Quando precisa, ele é um sedutor, mas, quando não precisa, é um trator.

Apesar das críticas, Puccinelli sempre teve boa avaliação popular nos cargos que exerceu. Quando foi prefeito em Campo Grande, sua administração obteve mais de 60% de aceitação.

Na disputa para deputado federal, foi o mais votado do estado.

Em 2006, venceu a eleição para o governo de Mato Grosso do Sul com 61,34% dos votos válidos. O principal adversário dele, o senador Delcídio Amaral (PT), ficou com 38,04% dos votos.

Puccinelli foi duas vezes prefeito de Campo Grande, de 1997 a 2004, depois de ocupar o cargo de secretário estadual de Saúde e ser eleito deputado estadual por dois mandatos (1987/91 e 1991/95) e, depois, deputado federal (1995/96).

Procurado pelo GLOBO, Puccinelli não quis dar entrevista. n

Enfrentamos uma campanha de terror. A turma do André (Puccinelli) dizia que éramos contra os homossexuais e os evangélicos

Ex-governador José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT

* Especial para O GLOBO