Título: Um sonho de R$ 90 bi
Autor: Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 27/09/2009, Rio, p. 18

Ministério do Esporte estima que jogos vão gerar na economia o triplo do que for investido

A contagem regressiva para o sonho olímpico ¿ pela primeira vez com chance real de se tornar realidade ¿ está chegando ao fim, Na próxima sexta-feira, o Rio de Janeiro, que nunca tinha conseguido chegar a uma final, saberá, enfim, se conseguiu convencer o Comitê Olímpico Internacional (COI) de que tem condições, mais do que Chicago, Tóquio e Madri, de sediar os Jogos de 2016. Um dos principais argumentos que o governo federal vai usar para tentar sensibilizar os membros do COI em Copenhague, onde será anunciada a cidade escolhida, é que, além do legado esportivo e da criação de uma nova audiência para os jogos, haverá dividendos econômicos. Os quase R$ 30 bilhões que os organizadores propõem gastar na campanha Rio 2016 vão estimular novos investimentos na economia brasileira como um todo, principalmente na cidade-sede, que podem chegar a R$ 90 bilhões.

¿ Nós estamos fechando o valor exato. Mas a relação se aproxima da geração de dois reais em investimentos para cada real investido (na organização dos jogos). O Rio de Janeiro é a principal porta de entrada do Brasil e tem uma estrutura urbana ainda deficiente, que seria beneficiada pelas Olimpíadas. Sem dúvida alguma, a realização do evento teria um impacto fenomenal. Muito maior do que se os jogos ocorrerem em Tóquio, Madri ou Chicago ¿ afirma o secretário nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser.

Quinze mil novos postos de trabalho

Leyser acrescenta que os resultados financeiros das Olimpíadas seriam melhores do que os obtidos pelos Jogos Pan-Americanos em 2007, quando foram gastos R$ 3,3 bilhões.

Segundo o estudo de uma consultoria contratada pela União, cada real investido no Pan representou no fim mais R$ 1,88. Desse total, metade da receita ficou com o Rio A realização de uma olimpíada estimularia vários setores da economia, sobretudo construção civil e serviços. A diretora de Desenvolvimento Econômico da Federação das Indústrias do Rio (Firjan), Luciana de Sá, cita um estudo do Instituto municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), ao afirmar que os benefícios seriam duradouros: ¿ Pelo menos 15 mil novos postos de trabalhos permanentes seriam criados apenas por conta dos jogos.

Alguns setores estão em compasso de espera, aguardando o que será decidido pelo COI na sexta-feira. O presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes, Alexandre Sampaio, cita uma pesquisa feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que estima a abertura de pelo menos 20 mil novas vagas em setores como hospedagem, gastronomia, entretenimento e serviços turísticos em todo o país nos próximos anos, caso os Jogos Olímpicos sejam confirmados no Rio.

Alexandre explica que na conta estão outros eventos já confirmados, como os Jogos Mundiais Militares de 2011, a Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo em 2014.

Mas nenhum desses eventos produziria tantos efeitos benéficos para a cidade quanto a promoção das Olimpíadas, de acordo com ele: ¿ A Rio 2016 aceleraria a revitalização da Zona Portuária. Com incentivos fiscais, estimamos que a região poderia ganhar até 60 restaurantes.

Se as Olimpíadas não acontecerem, essa revitalização também virá, só que num ritmo mais lento.

Pode levar uns 15 anos, como aconteceu em Puerto Madero (Zona Portuária de Buenos Aires).

À espera da decisão dos membros do COI estão também projetos de reformas de antigos hotéis, que devem ter as instalações modernizadas nos próximos anos. Segundo Alexandre, os atuais proprietários não fecharam negócio para o chamado ¿retrofit¿ com os futuros operadores porque a estimativa do mercado é que o setor hoteleiro se valorize entre 15% e 20%, com a confirmação dos Jogos Olímpicos no Rio.

¿ Também reivindicamos do BNDES condições mais favoráveis para financiar a construção de novos hotéis e, do Ministério do Turismo, mais recursos para o treinamento de mão de obra. A realização das Olimpíadas seria um argumento muito forte para acelerar a discussão ¿ diz Alexandre.

O otimismo dos empresários e políticos é corroborado por pesquisas feitas por economistas sobre o que representa a realização de uma olimpíada. Autor de um estudo sobre o impacto olímpico em outros países, o professor Roberto Brito de Carvalho, das faculdades de economia e turismo da PUC de Campinas (SP), diz que os efeitos do evento costumam ser observados não apenas durante os preparativos, mas também nos anos posteriores.

¿ O efeito multiplicador no Rio desses investimentos pode se dar de uma forma até mais permanente do que em outras cidades porque, antes das Olimpíadas, haverá aqui outros eventos. Isso evitará, por exemplo, aumento de índices de desemprego na construção civil de forma repentina com o fim dos projetos.

Afinal, são investimentos ao longo do tempo para os Jogos Mundiais Militares de 2011, a Copa do Mundo de 2014 e, quem sabe, as Olimpíadas ¿ diz Brito.

Mais turistas e novas tecnologias

Segundo o estudo, a realização dos Jogos Olímpicos gera uma publicidade espontânea com a divulgação do evento que aumenta o fluxo de turismo, não necessariamente no mesmo ano do evento. A Austrália, por exemplo, em 2000, quando foram realizadas as Olimpíadas de Sydney, registrou um crescimento de 11,95% na média de turistas. Na Espanha, o pico chegou a 21,69% em 1994, dois anos após os Jogos de Barcelona.

O professor Marcelo Proni, do Instituto de Economia da Unicamp, um dos autores de um outro estudo sobre os efeitos das olimpíadas, divulgado no ano passado pelo Ipea, cita ainda outros impactos.

Os Jogos de Pequim (2008) colaboraram para o crescimento da infraestrutura chinesa em tecnologia da informação, sistema bancário e setor de serviços. Em Sydney, foram implantadas técnicas de reaproveitamento de água, energia e lixo.

¿ O que está em jogo em Copenhague é podermos acelerar o processo de recuperação da nossa cidade. Essa recuperação já vem ocorrendo, mas, com as Olimpíadas, isso atrairia mais investimentos para o Rio. Imagine, em pouco mais de dois anos, o que representa de projeção para a gente sediar a final da Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos ¿ diz o prefeito Eduardo Paes.

O efeito multiplicador no Rio desses investimentos pode se dar de uma forma mais permanente do que em outras cidades porque, antes das Olimpíadas, haverá aqui outros eventos, como os Jogos Militares e a Copa

Roberto Brito de Carvalho, professor da PUC de Campinas

O que está em jogo em Copenhague é podermos acelerar o processo de recuperação da nossa cidade, com mais investimentos. Imagine, em pouco mais de dois anos, o que representa de projeção para a gente sediar a final da Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.

Eduardo Paes, prefeito