Título: Duelo entre os caras
Autor: Duarte, Patrícia; Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 29/09/2009, Rio, p. 12

Obama volta atrás e anuncia que, assim como Lula, vai a Copenhague lutar por Chicago 2016

DISPUTA OLÍMPICA

Ao voltar atrás e anunciar ontem que irá nesta sextafeira à assembleia do Comitê Olímpico Internacional (COI) que escolherá, na capital da Dinamarca, a cidade-sede das Olimpíadas de 2016, o presidente dos EUA, Barack Obama, acabou marcando um duelo de charme com o colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

Pelo menos aos olhos dos delegados do COI, os dois agora disputarão para valer quem é ¿o cara¿.

Abrindo um precedente histórico, Obama será o primeiro presidente americano a comparecer a uma cerimônia do gênero, para emprestar seu prestígio à candidatura de Chicago ¿ que, de acordo com especulações, disputa palmo a palmo com o Rio o direito de sediar a maior festa do esporte mundial.

O anúncio foi recebido com alvoroço, já sendo comparado à viagem feita a Cingapura em 2005 pelo então primeiroministro britânico Tony Blair para defender a candidatura de Londres.

Na época, os votos para Londres surpreenderam a então favorita Paris.

Blair, porém, passou três dias no país, ao passo que Obama ficará apenas algumas horas em solo dinamarquês, desembarcando em Copenhague às 6h de sexta-feira e retornando a Washington no fim da tarde. Em 2005, o presidente da França, Jacques Chirac, também decidiu em cima da hora ir à votação ¿ o que, segundo fontes, pode levantar entre os dirigentes do COI questionamentos sobre o real comprometimento do chefe de Estado com a candidatura. Em nota, o presidente do CO-Rio, Carlos Arthur Nuzman, salientou que o presidente Lula ¿está diretamente envolvido com a candidatura brasileira desde o seu início, há dois anos¿.

O CO-Rio informou que nada muda na estratégia da candidatura do Rio nesta reta final. O secretário municipal dos Jogos Mundiais Militares de 2011, da Copa das Confederações de 2013, da Copa do Mundo de 2014 e da campanha da Rio 2016, Ruy Cézar, disse que a ida de Obama mostra que o comitê de Chicago viu ser importante o empenho do presidente para vencer a disputa. A secretária estadual de Turismo, Esportes e Lazer, Márcia Lins, ressaltou diferenças entre o papel de Obama e de Lula: ¿ No Rio, os três níveis de governo estão unidos no entorno dessa candidatura desde antes dos Jogos PanAmericanos. O presidente Lula mostrou um grande nível de comprometimento ao longo de toda a campanha.

As outras cidades candidatas ¿ Tóquio e Madri ¿ tiveram reações mistas à ofensiva de Obama. Masanori Takaya, diretor de comunicações do comitê de Tóquio, disse ser natural que cada concorrente traga à Dinamarca a maior dose de prestígio que puder, como parte de seus esforços de relaçõespúblicas. Já a presidente da Madri 2016, Mercedes Coghen, não escondeu sua preocupação: ¿ Eu, pessoalmente, preferia que ele não viesse.

O prefeito Eduardo Paes e o governador Sérgio Cabral minimizaram os efeitos do ¿fator Obama¿.

¿ Com todo o carinho que merece o presidente americano, Obama/ Chicago versus Lula/Rio, vai dar Lula/Rio de goleada ¿ disse Paes.

¿ A presença de Obama só valoriza a disputa. O Rio está preparado para tudo ¿ afirmou Cabral.

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, que tem voto no COI, evitou o julgamento emocional: ¿ O Rio é a candidatura que conta com a maior simpatia, mas não é só simpatia que está em questão.

Lula chega antes e almoça com rainha

A confirmação de Obama levou ontem o site especializado Games Bids a atualizar seus prognósticos. O Rio perdeu pontos, caindo de 61,61 para 61,42, mas continua em primeiro lugar, enquanto Chicago subiu de 60,01 para 61,24. Tóquio também caiu, de 59,20 para 59,02, enquanto Madri manteve os mesmos 57,80. A direção do Games Bids cita como exemplos de como chefes de governo podem influir as vitórias de Londres em 2012 e de Sochi, na Rússia, em 2014 (Olimpíadas de Inverno).

O Games Bids acertou o resultado final em ambos os casos.

¿ É muito provável que as duas últimas eleições olímpicas tenham sido decididas porque os líderes das nações falaram ao COI horas antes da votação. Não há dúvidas de que a visita de Obama a Copenhague vai representar votos nessa disputa muito apertada ¿ disse Robert Livingstone, produtor do GamesBids.

com.

Para o jornalista britânico Duncan Mackay, veterano de coberturas olímpicas e editor do site de notícias insidethegames.com, a viagem de Obama poderá provocar problemas para o Rio: ¿ Chicago está resolvendo alguns problemas identificados pelo COI, e a visita do homem mais poderoso do mundo é algo que pode ajudar muito a cidade nos metros finais da corrida.

Londres também ganhou força no apagar das luzes.

Enquanto Obama chega a Copenhague na sexta-feira, Lula já estará lá amanhã à noite. Na quinta tem extensa agenda, que inclui almoço com a rainha da Dinamarca. Lula também irá ao Hotel Marriott, onde estão hospedados os membros do COI. A Rio 2016 mantém no hotel dois apartamentos decorados com imagens do Rio para receber os eleitores.

¿ O fato de o presidente Lula estar presente com mais antecedência demonstra a importância que o Brasil dá ao movimento olímpico.

Quanto mais tempo você tem para conversar, melhor para a candidatura ¿ disse o secretário nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser.

O discurso de Lula já está sendo redigido sob a supervisão do Ministério do Esporte e da Secretaria de Comunicação da Presidência. A previsão é que ele fale entre sete e oito minutos, segundo Leyser. O secretário acrescentou que não está preocupado com a influência de Obama: ¿ A vinda dele só confirma a boa situação da candidatura Rio.

Na véspera de embarcar, Lula reafirmou as chances de vitória do Rio por ter o melhor projeto, estar na América do Sul, que tem 180 milhões de jovens e nunca sediou os jogos, e por ter uma economia estável.

¿ Eu vou trabalhar para isso.

Agora, isso é uma disputa. Se a gente não ganhar, nós temos que nos preparar para outra. Mas eu acho que nós vamos voltar de Copenhague com uma vitória ¿ disse.

Prefeito de Madri: `Que venha Obama¿

O primeiro-ministro japonês Yukio Hatoyama também irá à assembleia do COI defender pessoalmente a candidatura de Tóquio.

O primeiro-ministro espanhol José Luis Rodríguez Zapatero também irá à votação. Mas admitiu a uma rede de TV espanhola que a vitória de Madri é difícil.

¿ Que venha Obama. Dará mais emoção. Como vai fazer também o rei (da Espanha) Juan Carlos ¿ disse o prefeito de Madri, Alberto Ruiz-Gallardón Jiménez, ao jornal ¿El País¿, ao chegar ontem a Copenhague.

Embora haja muitos palpites, é na aritmética dos votos dos delegados do COI que uma cidade recebe o direito de sediar os jogos. Uma matemática em que contas não raramente passam por acordos de cavalheiros entre concorrentes. Em Copenhague, uma aliança que poderá se desenhar é entre Rio e Madri, conforme admitiu, ainda que timidamente, a presidente da candidatura espanhola, Mercedes Coghen.

¿ Há uma relação e uma simpatia naturais. Mas não quer dizer que poderíamos garantir votos um para o outro.

Madri fez aliança na última disputa olímpica, apoiando a vitoriosa Londres após ser eliminada na terceira rodada de votações. Fontes ligadas ao COI afirmam que o Rio precisará de apoio fora da América Latina para conquistar pelo menos o terceiro maior número de votos na primeira rodada e compensar a tendência de regionalização inicial dos votos, numa final com cidades de quatro continentes diferentes.

COLABORARAM Pedro Motta Gueiros e Luiza Damé