Título: Aquecimento acelerado
Autor:
Fonte: O Globo, 29/09/2009, Ciência, p. 29

Efeitos extremos das mudanças no clima podem vir já em 2050

O mundo pode sofrer os efeitos mais extremos das mudanças climáticas bem antes do que o previsto. Caso as emissões de CO2 não sejam reduzidas o mais breve possível, a Terra pode ter uma elevação de 4 graus Celsius até 2050, com consequências devastadoras. Esse cenário é descrito no mais grave alerta já divulgado sobre o aquecimento global desde que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estimou, em 2007, que a temperatura do planeta poderia subir entre 1,8 e 4 graus até o fim deste século. O novo estudo confirma que esse fenômeno pode acontecer, só que 50 anos antes e com efeitos locais mais extremos.

A pesquisa ¿ feita pelo Centro Hadley, do Reino Unido, um dos mais respeitados centros de pesquisas sobre o clima do mundo ¿ coincide com a última rodada de negociações sobre o aquecimento global, iniciada ontem, em Bangcoc, na Tailândia. Ela precede a reunião de cúpula da ONU, em dezembro, em Copenhague, na Dinamarca, quando o mundo deverá acertar um novo acordo para substituir o Protocolo de Kioto, que expira em 2012.

¿ Nossos resultados mostram padrões similares aos do IPCC, mas revelam a possibilidade de que mudanças extremas possam acontecer mais cedo ¿ disse Debbie Hemming, uma das autoras da pesquisa, divulgada durante uma conferência sobre mudanças climáticas na Universidade de Oxford.

No estudo, foram compilados novos dados sobre o clima a partir de análises sobre o ciclo do dióxido de carbono e de informações atualizadas das emissões de países emergentes, como China e Índia, que estão entre os cinco maiores poluidores do mundo.

Tempo para ação reduzido à metade

Entre os efeitos de tamanha elevação da temperatura, relata o estudo, está o desaparecimento de metade das plantas e animais do planeta.

Secas severas se abateriam sobre África, América Central e Mediterrâneo, entre outros locais, afetando a oferta de água, a segurança alimentar e a saúde da população. Haveria também aumento de 20% do nível das precipitações na Índia, piorando o risco de enchentes.

As conclusões da pesquisa, dizem os cientistas, reduzem pela metade o tempo disponível para ação.

Elas abalam também a crença de que alguns dos piores efeitos das mudanças no clima só vão ser sentidos pelas gerações futuras.

¿ Sempre se falou sobre esses efeitos e as futuras gerações, mas pessoas que estão vivas hoje poderão ser afetadas por elas também ¿ conta Richard Betts, do Hadley Centre.

Uma novidade em relação aos relatórios do IPCC foi a inclusão dos efeitos dos ciclos do carbono. O estudo exemplifica que, se parte da Amazônia morrer por causa das secas, vai expor o solo, liberando mais carbono, originalmente presente na matéria orgânica, na atmosfera.