Título: Ministério sobe no palanque
Autor: Damé, Luiza; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 01/10/2009, O País, p. 3
Dos 37 ministros de Lula, 31 estão filiados a partidos, incluindo presidente do BC e chanceler
Com as filiações do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao PMDB, e do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao PT, somente seis dos 37 ministros do governo Lula, no exercício do cargo, não têm vínculo partidário formal. Os demais 31 são filiados a partidos políticos e, no próximo ano, estarão no palanque eleitoral como candidatos ou cabos eleitorais dos aliados.
Até agora, pelo menos 18 ministros deverão concorrer em 2010, desfalcando o governo a partir de abril. A tendência é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva preencha a maioria das vagas com secretários-executivos dos ministérios, como fez em 2006.
O PT, que controla 17 ministérios, também tem o maior número de prováveis candidatos ¿ nove ¿, incluindo a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata a presidente. O PMDB tem cinco ministros-candidatos; PCdoB, PR, PDT e PSB têm um cada. São seis possíveis candidatos a governador. Na última segunda-feira, durante a posse do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o próprio Lula defendeu o loteamento de cargos públicos entre as siglas aliadas. E disse que ninguém leva para o governo os inimigos, deixando de fora os amigos. Os ministros que são candidatos têm usado os dias próximos dos fim de semana para ter agendas políticas e eventos de campanha em seus estados.
Amorim assinou a ficha de filiação ao PT anteontem.
O presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), cuidou de mandá-la para registro no cartório eleitoral de Teresópolis, domicílio eleitoral do ministro. Amorim era filiado ao PMDB há muitos anos, mas não tinha militância partidária. O chanceler tem uma atuação política no governo, adotando as teses do PT ao lado de Lula, mas não disse ainda se é candidato.
¿ Temos orgulho e honra da filiação do ministro Amorim, mas não tem projeto eleitoral ¿ disse Berzoini, sem descartar, no entanto, uma candidatura do ministro e enumerando fatores que o credenciariam a disputar a eleição: ¿ Ele foi chanceler de dois governos, tem um grande compromisso com a causa pública, mas decidiu se filiar ao PT para manifestar identidade com o partido.
No caso de Meirelles, seria a primeira vez que um presidente do BC, no cargo, se filia a um partido para disputar eleições. Ele só deverá deixar o posto em março do ano que vem.
Oposição critica filiação de Amorim
Líderes da oposição criticaram a filiação de Amorim ao PT.
¿ O Amorim só cumpriu uma formalidade, já era petista disfarçado e agora, pelo menos, assumiu.
Ninguém pode esquecer que ele é o autor da expressão ¿nosso guia¿ para Lula. Foi só uma formalização do petismo ¿ comentou o líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN).
¿ A convivência com o PT explica esse desastre que foi a atuação do ministro Amorim em Honduras. Toda a sua formação, a diplomacia, sua trajetória e toda a sua lucidez agora serão ofuscados pela opção partidária ¿ completou o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO).
Berzoini e o secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo, minimizaram o fato de 31 dos 37 ministros de Lula serem filiados a partidos políticos.
¿ Desde o começo do governo, a maioria dos ministros tem filiação partidária. No caso do PT, a maioria é da cota do presidente. O partido indicou sete, o que não significa que os demais não tenham o nosso respaldo ¿ disse Berzoini.
Para Cardozo, nem mesmo o número de ministroscandidatos trará prejuízo ao desempenho do governo.
¿ Quem for candidato terá de sair no prazo legal, e o presidente tem nomes suficientes para compor a equipe ¿ afirmou.
Para o senador tucano Álvaro Dias (PR), o grande número de ministros candidatos ou filiados a partidos políticos pode significar um risco de abuso da máquina pública na campanha do ano que vem.
¿ Isso é um fato inédito na história política do Brasil republicano. Nunca houve tantas candidaturas no primeiro escalão. Coincidência ou não, dados do Siafi mostram um direcionamento na celebração de convênios e na liberação de recursos para os estados de origem dos ministros hoje pré-candidatos ¿ afirmou Dias.
Os ministros que pretendem disputar as eleições do ano que vem terão que deixar seus cargos no início de abril, prazo de desincompatibilização fixado pela Justiça Eleitoral.