Título: Brasil emite US$ 1,250 bi com menor diferença do ano para títulos dos EUA
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 01/10/2009, Economia, p. 29

Captação no exterior é a maior feita pelo país em 2009. Papéis vencem em 2039

BRASÍLIA. O governo brasileiro passou em mais um teste no mercado financeiro internacional ao emitir US$ 1,25 bilhão em bônus soberanos com prazo de 30 anos. Esta foi a maior captação das quatro realizadas em 2009, a primeira após o Brasil ter obtido o grau de investimento pela agência de risco Moody¿s. No total, o país conseguiu levantar no exterior o equivalente a US$ 3,55 bilhões este ano. O valor é expressivo, considerando-se o cenário de crise financeira global. Segundo o Tesouro Nacional, outros US$ 62,5 milhões ainda podem ser oferecidos ao mercado asiático nos próximos dias.

A taxa de juros da nova emissão, ou seja, quanto o governo pagará aos investidores que compraram os papéis, ficou em 5,8% ao ano. E o spread, ou seja, a diferença para os juros pagos pelos títulos do Tesouro americano, usados como referência no mercado internacional, foi de 175 pontos centesimais. Essa foi a menor diferença do ano em relação aos papéis dos EUA.

O percentual de juros obtido na operação, como o da emissão de maio passado, foi o mais baixo do ano. A vantagem é que, dessa vez, os papéis emitidos pelo Tesouro são novos.

Os Global 41, que vencem em 2039, ainda não haviam sido oferecidos. E, nesses casos, não há um preço de referência, o que pode pressionar os juros desses títulos para cima.

Analistas comemoraram o resultado da emissão e avaliam que o Brasil sai fortalecido de mais esse teste.

¿ Isso mostra que o mercado internacional está disposto a financiar o Brasil. Vemos que existe claramente uma tendência de queda na percepção de risco dos investidores em relação ao país ¿ avalia o economista Alex Agostini, da Austin Rating.

Para o gerente de Câmbio da corretora Liquidez, Francisco Carvalho, a captação foi bemsucedida e deve trazer mais dólares no país: ¿ O sucesso dessa captação comprova que há demanda por papéis nacionais ¿ disse ele. ¿ A operação é importante porque cria uma referência de preço e prazo para que empresas brasileiras também busquem recursos lá fora.

Agostini concorda que a captação do Tesouro abre as portas para que as companhias nacionais também se lancem ao mercado externo em busca de recursos.

Medida ajuda a valorizar o real frente ao dólar O dinheiro das captações ingressa diretamente nas reservas cambiais brasileiras. Por isso, analistas acreditam que, depois de bater ontem R$ 1,77, o dólar deve continuar pressionado. A tendência de queda deve incomodar ainda mais o setor exportador, que tem se queixado da valorização do real.

A última captação de julho deste ano ¿ a primeira após o período mais difícil da crise ¿ havia obtido a menor taxa de juros para um papel brasileiro de 30 anos da História. Em maio, o Brasil foi o primeiro país emergente a fazer uma emissão de 30 anos após a turbulência financeira global