Título: Falhas também no esquema de distribuição
Autor: Vieira, Amélia; Rebouças, Danile
Fonte: O Globo, 02/10/2009, O País, p. 8

Relatos de estudantes põem em xeque garantia de segurança feita por organizadores de prova do Enem

RIO e SALVADOR. A distribuição das provas do Enem, adiadas ontem, também apresenta falhas que põem em risco a garantia de sigilo feita pelas empresas integrantes do consórcio contratado pelo MEC. Ontem, no Rio e em Salvador, sedes da Funrio e da Consultec, alunos relataram sinais da fragilidade no esquema de empacotamento e envio das provas.

Uma estudante de 21 anos do Colégio Estadual Monteiro de Carvalho, em Santa Tereza, no Centro do Rio, contou ter recebido R$ 42 por dia para ajudar a empacotar os exames ¿ alguns sem lacre algum ¿ em um galpão em São Cristóvão, na Zona Norte.

De acordo com o Inep, a maior parte dos kits do exame estava concentrada no Rio, de onde seriam enviados, via Correio, para 1.829 municípios que aplicarão as provas.

O empacotamento foi concluído anteontem. O secretárioexecutivo da Funrio, Azor José de Lima, disse ontem que ¿era difícil poder responder¿ se o ato de embalagem das provas estava sendo feito em um galpão. Ele não soube dizer como o processo é feito, argumentando que cabe ao setor de Concursos da Funrio o detalhamento. O responsável pelo setor não foi localizado pelo GLOBO.

Em Salvador, uma aluna do Colégio Cândido Portinari, no bairro Costa Azul , contou que a mãe de uma colega, que integra a coordenação do Enem, teria recebido, em casa, pelo Correio, um pacote de provas.

A reportagem procurou o Ministério da Educação para saber a quem caberia garantir a segurança das provas, mas não obteve retorno.

Também sob responsabilidade da Funrio, um outro concurso federal foi anulado recentemente: o de preenchimento de 450 vagas no Ministério da Justiça. Em nota divulgada no começo de setembro, o Ministério manifesta ¿descontentamento¿ com os ¿incidentes ocorridos, que referem a questões de organização somente¿.

As provas, feitas no dia 6 de setembro, foram anuladas e novos exames foram em seguida marcados para o último dia 27. A decisão de cancelar o concurso, para 59 mil candidatos, foi da Funrio, em reunião com o Ministério da Justiça. Candidatos denunciaram que provas teriam sido violadas e que faltou orientação adequada aos candidatos sobre os locais dos exames.

Para diretor, ¿é muito difícil ter vazamento¿ Azor José Lima afirmou que a preocupação com o sigilo sempre deu confiabilidade à Funrio. Ele disse considerar difícil que o vazamento tenha ocorrido nas etapas de impressão, empacotamento e envio das provas ¿ o mais provável é que tenha ocorrido através do Inep, segundo ele, por razões políticas. Criada há nove anos por funcionários e professores da Unirio, a fundação atua na área de "Ensino, Pesquisa e Assistência". De 2006 para cá, a fundação participou da organização de 37 concursos, cinco deles em andamento.

Entre os já feitos pela fundação estão o da Junta Comercial do Rio, o do Corpo de Bombeiros do estado do Rio e o da Secretaria de Educação de Rondônia.

¿ É muito difícil ter vazamento.

O material foi distribuído em carro forte. As provas saem lacradas das gráficas. O sigilo para nós é fundamental.

Nós fizemos inúmeros concursos, com 170 mil candidatos.

Em nenhum deles houve vazamento ¿ disse Azor.

* Agência A Tarde