Título: Saldo comercial caiu à metade em setembro
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 02/10/2009, Economia, p. 33

Resultado foi o menor do ano. Exportações do país, no entanto, se mantiveram estáveis

BRASÍLIA. Impulsionadas pelo câmbio, as importações subiram em setembro e levaram a balança comercial brasileira a registrar saldo de US$ 1,330 bilhão ¿ o menor superávit do ano e que correspondeu a menos da metade do obtido em agosto. Entre um mês e outro, o valor das compras externas atingiu US$ 12,534 bilhões, alta de 16,4%. Enquanto isso, num cenário mundial ainda retraído pela crise, as exportações se mantiveram praticamente estáveis, em US$ 13,864 bilhões.

No governo há setores preocupados com os efeitos da valorização do real no comércio exterior. O receio é que empresas brasileiras deixem de exportar e haja prejuízos para a indústria nacional com a substituição de insumos nacionais por importados. Os setores mais prejudicados são os intensivos em mão-de-obra (têxtil e calçados) e que empregam tecnologia de ponta.

Segundo um técnico, apesar das queixas recorrentes do setor exportador, o cenário atual é diferente do ano passado ¿ o que agrava o problema. Até meados do ano passado a demanda mundial vinha num ritmo crescente, o que compensava as perdas.

Com a crise, a competição se acirrou. Países com câmbio controlado, como a China por exemplo, conseguem derrubar seus preços e muitas vezes, abaixo do custo de produção, o que expulsa os concorrentes.

Do lado das importações, a preocupação maior é com as matérias-primas ¿ que representam 50% da pauta ¿ e não com bens de consumo, que têm menor impacto em termos de valores. Em setembro, as compras com insumos subiram 8,2% em relação ao mês anterior, totalizando US$ 5,8 bilhões. Bens de consumo por sua vez subiram 14%, atingindo US$ 2 bilhões.

Preocupação com câmbio divide o governo Em termos absolutos, influenciadas por um dólar mais barato, as importações com insumos tiveram um acréscimo de US$ 400 milhões entre agosto e setembro e com bens de consumo, US$ 200 milhões.

A preocupação com o câmbio, no entanto, divide a equipe do governo. Enquanto o Ministério do Desenvolvimento é mais sensível a essa questão, a Fazenda e o Banco Central adotam o discurso de que há o lado positivo do problema: a entrada de dólares está ligada à confiança na economia brasileira, ajuda a ampliar os investimentos e manter a inflação sob controle.

Medidas drásticas como mexer no câmbio estão descartadas, disse um técnico. O que se discute são ações pontuais, como redução de IPI e Cofins para setores mais atingidos e simplificação do chamado draw-back (sistema que suspende cobrança de tributos nos insumos para exportação).