Título: Mercado já cogita dólar a R$ 1,70 no fim do ano
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 02/10/2009, Economia, p. 33
Ofertas de ações e recuperação das "commodities" valorizam real. Bovespa recua 1,72% com dados dos EUA
RIO, WASHINGTON e NOVA YORK. Depois que o dólar furou o piso de R$ 1,80, os economistas já começam a jogar suas projeções para baixo da divisa americana, que agora, segundo eles, pode chegar a R$ 1,70 até dezembro. Já para 2010, a moeda pode começar a se recuperar.
O responsável por essa valorização do real é a própria recuperação da economia brasileira, que aumenta o fluxo de recursos para o país.
Além dos ¿culpados¿ tradicionais ¿ como o dinheiro para investimento direto, ou para aplicar nas ainda altas taxas de juros brasileiras ¿, a responsabilidade por atrair capitais agora, derrubando o dólar, é atribuída, em parte, às ofertas públicas de ações, como a do Santander. Juntas, as operações devem somar mais de R$ 20 bilhões nos próximos meses.
¿ O dólar a R$ 1,70 é para onde vamos, pode até dar um pulinho abaixo disso, mas deve ficar em torno disso. Continuamos com entrada bastante forte de dinheiro, essas operações normalmente não entram na conta ¿ avalia José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, para quem, depois de atingir esse piso, a moeda americana tende a se recuperar, ano que vem.
O economista do Grupo Santander Brasil, Cristiano Souza, diz que o banco continua com a projeção do dólar a R$ 1,95 no fim do ano e R$ 2, em 2010.
Nos dois casos, significa uma alta em relação à cotação atual. Ele avalia que, segundo um estudo do banco que levou em conta um longo período de tempo, não há correlação imediata entre fluxo cambial e a variação do dólar.
¿ O real tem se comportado mais como uma ¿moeda de commodity¿ (matéria-prima, como petróleo e metais), que varia mais de acordo com a percepção de risco para as empresas que negociam estes produtos ¿ diz Souza, que reconhece não parecer tão provável agora uma recuperação expressiva do dólar.
Segundo o último boletim Focus, elaborado pelo Banco Central (BC) com as projeções de analistas, divulgado na última segunda-feira, a expectativa média para o dólar ainda é de R$ 1,80 no fim do ano.
Fed defende equilíbrio para manter dólar como reserva Ontem, o dólar teve um dia de recuperação no Brasil e no mundo: aqui, subiu 0,90%, para R$ 1,788. Entre os fatores que estimularam a alta da divisa americana ontem, o principal foi a declaração do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, de que os juros poderão subir se for necessário. Outro fator de pessimismo foi a queda do indicador do Instituto de Gerentes de Compras (ISM, na sigla em inglês) de setembro, de 54 pontos, em agosto, para 52,6 no mês passado. O índice mede a atividade industrial.
Em depoimento da Comissão de Serviços Financeiros da Câmara, Bernanke reconheceu que o desejo de Rússia e China de criar uma supermoeda poderá fazer o dólar perder seu status de moeda de reserva global. Mas, ressaltou, a longo prazo o mais importante é estabelecer o equilíbrio fiscal.
¿ Eu não vejo isso como risco desde o país tome medidas para controlar nosso risco e manter a inflação baixa ¿ afirmou, destacando que os EUA precisam ¿colocar a casa econômica em ordem¿.
Bernanke também afirmou que o Fed pode administrar políticas monetárias para ajudar a economia americana sem provocar inflação a médio prazo.
¿ Acreditamos ter as ferramentas e a vontade política para conseguir isso ¿ disse o presidente do Fed.
Essa declaração fez alguns analistas a apostarem em elevação da taxa básica de juros nos EUA, atualmente em zero, no ano que vem.
Quando um deputado expressou seus temores sobre o elevado endividamento dos EUA, afirmando que os americanos precisam poupar mais e gastar menos, Bernanke afirmou: ¿ A melhor maneira que temos para elevar nossa taxa de poupança é melhorar nossa posição financeira.
Além disso, o número de pedidos de seguro-desemprego nos EUA subiu 17 mil na última semana, para 551 mil.
Com isso, a Bolsa de Nova York teve o pior pregão em três meses, com o índice Dow Jones em queda de 2,09% e o Nasdaq, de 3,06%.
Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Índice Bovespa (Ibovespa) encerrou o dia em queda de 1,72%, aos 60.459 pontos, com investidores aproveitando o noticiário negativo para vender ações, a maior queda desde o fim de agosto. As maiores perdas no mercado de ações brasileiro foi das ações de construtoras, com investidores embolsando os ganhos, justamente porque foram as que mais subiram nos últimos meses.
Hypermarcas entra no setor de fraldas e compra Pom Pom A Hypermarcas, detentora de diversas marcas populares, de medicamentos sem prescrição médica a adoçantes, adquiriu a Pom Pom, fabricante de fraldas descartáveis, infantis e geriátricas, setor no qual a empresa comprada é líder, com 40% de participação da sua marca BigFral. O valor da operação não foi divulgado.
Segundo a Hypermarcas, o setor de fraldas infantis movimenta cerca de R$ 2,4 bilhões anualmente no Brasil, mas a compra permitirá ainda a entrada da empresa em outros segmentos de descartáveis, como absorventes femininos e lenços umedecidos
(*) Com agências internacionais