Título: Meirelles prepara sucessão
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 03/10/2009, Economia, p. 30

BC ficaria com Tombini, diretor de Normas, e Mesquita sairia

BRASÍLIA. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, aparentemente já começou a preparar sua sucessão e a abrir espaço, pelo menos por enquanto, para que o atual diretor de Normas, Alexandre Tombini, o substitua. Para isso, pode concordar com a saída do diretor Mário Mesquita (Política Econômica), nome bem recebido pelo mercado e cotado para a vaga, mas que há mais de um ano já vem demonstrando vontade de deixar o BC.

Mesquita, cuja saída pode acontecer mais no fim do ano, até já teria praticamente fechado sua ida a um grande banco internacional após cumprir o período obrigatório de quarentena, mas seus colegas dizem ainda não ver sinais concretos de que ele vai, de fato, deixar o BC em breve. O diretor tem um perfil mais conservador e técnico e, sobretudo no início do ano, viu seu poder diminuir.

Foi no momento em que a crise secou o mercado de crédito e jogou a economia em recessão. Em janeiro e junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu fazer cortes mais fortes na Selic, mas não de maneira unânime, pois uma pequena parte da diretoria preferia reduções mais brandas. Na avaliação do mercado, Mesquita estaria no lado perdedor, indicando que sua influência como o principal articulador da política econômica dentro do BC estaria enfraquecida.

Agora, o cenário já não é mais o mesmo, com o diretor recuperando sua atuação dentro do BC. É visível que Mesquita está mais tranquilo. Outra baixa que pode ocorrer é a do diretor de Política Monetária, Mario Torós, que não esconde, até mais que seu colega, a vontade de voltar para a iniciativa privada.

As perdas, para Meirelles, não são boas, já que ele está bastante exposto por filiar-se ao PMDB e ter pretensões de concorrer a um cargo ¿ possivelmente ao Senado, por Goiás ¿ nas eleições de 2010. Para ele, o melhor cenário seria manter toda a diretoria, especialmente as duas principais, as de Mesquita e Torós, até o fim. Mas, diante das queixas, Meirelles estaria preferindo resolver agora para mostrar ao mercado e ao setor produtivo quem são os técnicos que ficarão no BC.

Ou seja, quando o seu sucessor assumir, uma eventual nova diretoria já estaria consolidada.

Em março, se decidir de fato ser candidato, Meirelles terá de deixar o BC.

Antes mesmo de a crise internacional atingir seu auge, em setembro de 2008, Mesquita já dava sinais de que pretendia deixar o BC, pois considerava que seu trabalho estava concluído. Mas, com a turbulência, percebeu que sua permanência era fundamental para reequilibrar os mercados.

¿ Nesses momentos, um diretor do BC não tem mais o poder de decidir de ir embora. Ele acaba sendo obrigado, pelas circunstâncias, a ficar ¿ avalia um economista próximo ao BC