Título: Inaugurado em 1936, hospital ameaça fechar
Autor: Menezes, Maiá; Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 04/10/2009, O País, p. 3

Diretor diz que instituição, atolada em dívidas de R$ 45 milhões, não resiste mais do que dois meses BELO HORIZONTE. O Hospital São Francisco de Assis é o segundo mais antigo da capital mineira, com 70% de seus serviços prestados pelo SUS. Foi inaugurado em 1936 e tem capacidade para mil atendimentos diários em clínica médica, cardiologia, nefrologia, oncologia e diversas outras especialidades. Mas hoje, atolado em R$ 45 milhões em dívidas, só faz a metade. São 136 leitos, menos de 60 ocupados.

A instituição era administrada por uma associação católica, que em maio saiu do comando. Então, a Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP), entidade beneficente dona do prédio, nomeou para a função o médico Ivo de Oliveira Lopes, que tenta driblar as contas. Por mês, os custos somam R$ 2,2 milhões, mas o déficit gira em torno de R$ 800 mil.

Ele calcula que, em dois meses, não será mais possível funcionar: ¿ O São Francisco não aguenta muito tempo. Temos os trabalhadores, mas faltam insumos básicos, como soro e medicamentos. Como é que a gente trabalha com esse subfinanciamento? Se os valores subissem, certamente sairíamos dessa situação.

A tabela torna economicamente inviáveis alguns procedimentos, mais bem pagos pelo mercado. Na capital mineira, havia 62 mil pessoas aguardando cirurgias eletivas em junho.

Médicos e hospitais preferiam realizálas pelos planos, o que levou a prefeitura a fazer complementação com verba própria.

O acréscimo é dado aos hospitais desde que cumpram metas, como evitar infecções hospitalares e outras complicações, além de diminuir a desmarcação de procedimentos. Em algumas situações, como na cirurgia de varizes (de R$ 483 para R$ 944) e na retirada de um útero (de R$ 634 para R$ 1.258), o bônus dobra o valor fixado pelo Ministério da Saúde. Numa extração de amígdala, por exemplo, o valor aumenta de R$ 306 para R$ 549.

Por ora, o esforço tem evitado apenas que a fila cresça, mas o município pretende zerá-la em três anos. Alguns hospitais criaram terceiro turno para os atendimentos.

O consultor Eugênio Vilaça, da Secretaria de Saúde mineira, concorda que os valores da tabela estão aquém do ideal, mas pondera que esse modelo de remuneração está ultrapassado.

¿ Os países desenvolvidos, especialmente os da Europa, fixam um valor por paciente, ajustado ao perfil da população (se há mais idosos ou mulheres, por exemplo). Em outros casos, é feita a opção por um orçamento global, pelo pacote de serviços prestados na unidade.

Para o consultor, apesar da influência da tabela, o fechamento de hospitais pequenos não é, necessariamente, um indicador ruim. Um estudo feito em parceria com a UFMG mostrou que, para operarem no azul, eles precisam ter um mínimo de cem leitos. Caso contrário, funcionam sem economia de escala. Com isso, têm dificuldade de investir em tecnologia e manter a qualidade dos serviços.

O ideal, afirma, é ter sempre alguma unidade maior e bem equipada em cidades de médio ou grande porte para servir de referência às demais.

E um bom sistema de transporte dos pacientes. (Fábio Fabrini)