Título: Em Alagoas, atendimento entra em colapso com greve e redução de leitos
Autor: Rios, Odilon; Martin, Isabela
Fonte: O Globo, 04/10/2009, O País, p. 4

Nos últimos 15 meses, 60 mil operações eletivas deixaram de ser feitas

MACEIÓ e FORTALEZA. O fechamento de 50% dos leitos dos hospitais particulares, nos últimos anos, em Alagoas, e a greve de 15 meses do Sistema Único de Saúde (SUS), para cirurgias nesses hospitais, transformaram a Defensoria Pública do Estado no mais novo abrigo dos doentes e carentes: sem plano de saúde, 94% da população precisam dos hospitais públicos, que não suportam a demanda.

Para obrigar os hospitais a prestar atendimento, o defensor público da área da saúde, Ricardo Melro, virou uma espécie de Dom Quixote: em carros da Defensoria ou ambulâncias vindas do interior, manda os pacientes para os hospitais. Quem se negar a atender responde a ação civil pública por negligência.

¿ Nunca me negaram atendimento.

Conheço os funcionários.

Isso é questão política. Tem que ser resolvida ¿ diz Melro.

Na defensoria, foi criado um núcleo para atender a demanda na área da saúde. Já são 250 ações na Justiça, protocoladas pela defensoria; mais de cem só para atendimento médico.

Santa Casa desativou leitos

Em 15 meses de greve do SUS, que suspendeu as cirurgias eletivas em hospitais particulares, 60 mil operações não foram feitas. Os hospitais deixam de atender pelo sistema, alegando que faltam recursos.

Dados do sindicato dos médicos apontam que no Hospital do Açúcar havia 600 leitos; hoje, são 200. Na Santa Casa de Misericórdia, mais de 50% dos leitos foram desativados em todo o estado, nas unidades particulares.

¿ Os médicos abandonam o SUS porque se recusam a receber valores imorais. Há ações obrigando o estado a pagar as cirurgias ¿ disse o presidente do sindicato, Welington Galvão.

O Ministério Público Federal investiga a paralisação dos atendimentos do SUS e tenta uma saída. Amanhã pode ser anunciada uma solução para tentar encerrar a greve.

Em Fortaleza, cirurgiões gerais da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza ameaçam parar de atender pelo SUS.

Alegam que ganham menos do que se paga por um corte de cabelo por alguns procedimentos.

Em cirurgias como de hérnia, por exemplo, chegam a ganhar de R$ 20 a R$ 30.

A Santa Casa é um dos 33 hospitais filantrópicos e privados de Fortaleza conveniados ao SUS e realiza cerca de 800 cirurgias de médio e grande porte. Mesmo assim, em algumas áreas, como a de cabeça e pescoço, há uma fila média de 50 pessoas aguardando a vez.

Semana passada, representantes dos 70 cirurgiões da Santa Casa procuraram o secretário de Saúde do município, Alexandre Mont¿Alverne. Para continuar atendendo pelo SUS, querem ser remunerados com base na tabela CBHPM, que regula convênios privados de saúde, aplicado um redutor de 40%.

¿ Cirurgia tem riscos e fazer uma cirurgia para ganhar menos do que um corte de cabelo não faz sentido ¿ diz o diretor-presidente da cooperativa dos cirurgiões-gerais do Ceará, Paulo Henrique Diógenes Vasques.

Dois 2,5 milhões de habitantes de Fortaleza, cerca de 2 milhões dependeriam exclusivamente do SUS. Segundo a Secretaria de Saúde, existem em Fortaleza 9.201 leitos, dos quais 6.661 atendem pelo SUS. Em julho foram realizadas 17.965 internações em Fortaleza, sendo que 8.883 (49,4%) foram feitas em hospitais privados e filantrópicos conveniados