Título: Pé no acelerador
Autor: Marqueiro, Paulo; Schmidt, Selma
Fonte: O Globo, 05/10/2009, Rio, p. 8

Estado e prefeitura planejam iniciar ainda este ano obras de BRT e metrô para a Barra

ORio começa a se mover: projetos da área de transporte que estavam engarrafados nos corredores da burocracia estão tendo a sua implantação acelerada. O vice-governador Luiz Fernando Pezão anunciou ontem que as obras do metrô entre a Barra e a Zona Sul serão iniciadas até dezembro. Ainda em meio às comemorações pela vitória do Rio como sede das Olimpíadas de 2016, o prefeito Eduardo Paes prometeu dar a partida, também ainda este ano, em dois corredores expressos para ônibus (Bus Rapid Transit, ou BRT): um deles ligando a Barra à Penha (o T-5), orçado em R$900 milhões, e o outro unindo Santa Cruz à Barra pelo Túnel da Grota Funda, ao custo de R$300 milhões.

O maior desafio deverá ser o metrô Barra-Zona Sul, que prevê o prolongamento da Linha 1, da estação General Osório (Ipanema) - com inauguração marcada para dezembro - até a Gávea, onde se encontraria com o trecho da Linha 4 entre a Gávea e o Jardim Oceânico (Barra). A obra, com 13,5km e seis estações (Nossa Senhora da Paz, Jardim de Alah, Leblon, Gávea, São Conrado e Jardim Oceânico), está orçada em R$2,8 bilhões. Para cumprir a meta, o metrô teria de acelerar o ritmo. Desde 1998, a cidade ganhou, em média, uma estação a cada quatro anos. Mas, levando-se em conta as 33 existentes, o tempo conta a favor: de 1975, quando foram iniciadas as obras do metrô, até 2007, quando ele chegou ao Corte de Cantagalo, o Rio abriu uma estação a cada 11,6 meses.

- Se tiver dinheiro e pessoas competentes trabalhando, é possível terminar a obra ainda a tempo da Copa do Mundo de 2014 - afirma o engenheiro Fernando Mac Dowell, que foi presidente do Metrô no início de sua implantação.

A experiência de Pequim, na China, sede das Olimpíadas de 2008, também mostra que o tempo não é obstáculo. Depois de ser escolhida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), a cidade construiu quatro novas linhas de metrô, ficando com um total de sete.

Metrô começa pelo Jardim Oceânico

As obras do metrô Barra-Zona Sul começarão pelo Jardim Oceânico, segundo informou o secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes. Ele disse que o projeto já está licitado e conta com estudo de impacto ambiental, o que pode acelerar o processo. O governo estuda a possibilidade de fazer um aditamento no contrato, para que o projeto seja executado não como uma concessão, mas como obra pública, pelo consórcio que venceu a licitação (liderado pela Queiroz Galvão).

- A obra não exigirá muitas desapropriações. Além disso, o estado ampliou sua capacidade de endividamento em R$1,5 bilhão. A prefeitura também aprovou uma lei que permite construir em terrenos remanescentes do metrô. A venda desses imóveis pode gerar receita de R$700 milhões a R$1 bilhão - diz Lopes.

Como não faz parte dos compromissos assumidos com o COI, se o metrô não puder ser feito, o projeto será substituído por um BRT ligando a Barra à Zona Sul, com 29km, mais barato e demandando um tempo menor de construção.

Além dos BRTs Santa Cruz-Barra e Barra-Penha, estado e prefeitura prometem implantar corredores expressos entre Barra e Deodoro (a chamada ligação C) e entre o Jardim Oceânico e o Terminal Alvorada, este último passando pela Avenida das Américas, na Barra. A ligação C, cujas obras deverão começar no ano que vem, será feita em regime de concessão. A nova via, de 15km, terá pedágio nos moldes da Linha Amarela.

- A ligação C não é um compromisso olímpico, é uma obra que estava para ser feita, e nós vamos fazê-la. Essas obras não são para as Olimpíadas. São para a cidade - diz Paes, acrescentando que não descarta a possibilidade de rodízio de carros e feriado escolar durante os Jogos de 2016.

A escolha do Rio para sede das Olimpíadas credenciou a cidade a receber recursos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade Urbana, que deverá ser anunciado pelo governo federal até dezembro. O pacote de investimentos injetará R$5 bilhões em obras de transportes nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. A prefeitura do Rio reivindica R$800 milhões para as obras do corredor T-5.

O ministro das Cidades, Márcio Fortes, disse que o governo federal ainda não decidiu quais projetos receberão financiamento, mas sinalizou que o Rio tem boas chances na maratona da cidades-sede por recursos. Márcio Fortes afirmou ainda que o projeto do corredor T-5 está sendo ampliado pela prefeitura do Rio para chegar ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, fazendo a ligação com a Avenida Brasil. Segundo o secretário municipal de Obras, Luiz Antônio Guaraná, a prefeitura corre contra o tempo para concluir os estudos de viabilidade e o projeto-executivo do empreendimento.

O anúncio dos projetos contemplados deverá acontecer até o fim do ano. Segundo Fortes, serão escolhidos aqueles que puderem ser concluídos pelo menos três meses antes do início da Copa e que tenham sustentabilidade financeira após a competição.

Entre os compromissos com o COI na área de transportes está a compra de 60 trens e a reforma de outros 73. Como no caso do metrô, os números mostram o tamanho do desafio: nos últimos 11 anos, a frota foi ampliada em 38 trens - 3,4 trens por ano. Otimista, Júlio Lopes afirma que está em fase final uma negociação com a SuperVia - nos moldes do acordo feito com a Metro Rio -- ampliando o prazo de concessão, por mais 25 anos, em troca de investimentos da empresa, da ordem de R$2 bilhões, na melhoria da rede e na compra de trens.

- O estado também está recebendo, em dezembro, 30 trens com ar-condicionado que encomendou à Coréia. Outros oito trens chegarão no ano que vem - conta Lopes.

COLABOROU Isabela Bastos