Título: Comitê aprova 5% de votos para emergentes
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Fonte: O Globo, 05/10/2009, Economia, p. 19

Nações em desenvolvimento, com Brasil à frente, reivindicam participação de 7%

ISTAMBUL. Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), e Timothy Geithner, secretário de Tesouro dos Estados Unidos, praticamente fecharam as portas para que o Brasil, a China e outros emergentes tenham ainda mais poder nas decisões da instituição. Os emergentes querem que os ricos transfiram para eles 7% de seus votos no FMI. Ou seja: mais do que os "pelo menos 5%" que o G-20 - grupo que reúne ricos e emergentes - concordou em ceder na reunião de cúpula de Pittsburgh, nos EUA.

Strauss-Kahn anunciou que a transferência de "pelo menos 5%" dos votos foi aprovada ontem pelo Comitê Monetário e Financeiro Internacional (principal órgão diretor do FMI) durante a reunião anual do Fundo e do Banco Mundial, em Istambul. E frisou: "exatamente esta redação" foi adotada na reunião de cúpula do G-20 de Pittsburgh.

- Eu sei, todos sabemos, que os Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China) estão pedindo mais. Outros países estão pedindo menos. É esta a essência de um compromisso. Penso que, se conseguirmos algo em torno de 5%, não será mal.

Agora, virou guerra de semântica. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, vê os "pelo menos 5%" como piso, e não teto.

- Continuamos pensando que esta mudança deveria ser de 7%. Com esta dimensão, a parte dos mercados emergentes e dos países em desenvolvimento alcançaria um poder de voto de 50% e isto corresponderia, mais ou menos, ao que eles representam na economia internacional - explicou Mantega.

Strauss-Kahn fez as contas. Segundo ele, se os futuros 5% forem somados à transferência de 2,7% que o FMI concordou em fazer para os emergentes em 2008 (e que ainda está sendo implementada) então os emergentes vão ter um total de 7,7%. Isto é, acima do que estão pedindo agora.

Geithner faz apelo para que FMI seja reformado rapidamente

Geithner disse ao GLOBO que também descarta os 7% neste momento:

- Eu acho que, realisticamente, não vamos ver por algum tempo qualquer acordo além do objetivo estabelecido inicialmente - respondeu.

Mas Geithner fez ontem em Istambul um apelo para que o FMI seja reformado rapidamente, para dar mais voz aos países emergentes e em desenvolvimento, dizendo que isso é "essencial" para dar legitimidade ao Fundo. Os EUA têm 17 dos votos na instituição, que tem 186 países-membros, o que dá aos americanos o poder de veto nas decisões. Os que mais perderiam poder com a transferência de votos para os emergentes são os europeus.

O FMI espera aprovar a transferência dos votos para emergentes em janeiro de 2011. Youssef Boutros-Ghali, que presidiu a reunião do comitê do FMI, disse que a tarefa não será simples:

- Estamos reformando uma organização que é complexa, sofisticada e chega em cada esquina da economia mundial - disse. (Deborah Berlinck, enviada especial)