Título: Para FMI, problema do Brasil é excesso de capital
Autor:
Fonte: O Globo, 05/10/2009, Economia, p. 19

Recuperação do país atrai investidor, o que valoriza demais o real, diz Fundo

Deborah Berlinck*

Oproblema para o Brasil não é a carência, mas a abundância de recursos de investidores externos, afirmou ontem Nicolas Eyzaguirre, diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Hemisfério Ocidental. Ele ressaltou que o Brasil é o país que melhor está saindo da crise na região, seguido de Peru e Chile, e disse que seu retorno ao crescimento pode "instigar o apetite" dos investidores.

- O Brasil vai instigar o apetite dos mercados de capitais devido à solidez de sua economia - disse Eyzaguirre. - O problema do Brasil é como administrar a abundância. O país provavelmente é o que está se recuperando no ritmo mais acelerado na região.

O diretor do FMI acrescentou que o Brasil não sofreu muito com a crise em 2008, à exceção do quarto trimestre, tendo conseguido manter o consumo. Mas fez uma recomendação:

- Provavelmente, e friso o provavelmente, se a demanda no setor privado no mundo saltar, o que possibilitará uma recuperação (global) mais sustentada, o Brasil deve começar a pensar a diminuir o estímulo fiscal para evitar a valorização da moeda.

Algumas medidas de estímulo à economia, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros e eletrodomésticos, já começaram a ser gradualmente retiradas pelo governo.

Eyzaguirre destacou ainda o fato de o Brasil ter "muitas reservas internacionais" e uma moeda estável. Dizendo-se "cautelosamente otimista", ele acredita que a América Latina voltará a registrar crescimento no terceiro trimestre.

Em Bruxelas, onde se reuniu com o primeiro-ministro belga, Herman Van Rompuy, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar que o Brasil vai fechar este ano com expansão, devendo crescer 5% em 2010.

Strauss-Kahn defende "pool"

Enquanto isso, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, voltou a insistir ontem na sua proposta de que a instituição abrigue um pool de reservas de vários países e se torne um emprestador de último recurso em caso de crise. Ele acha que essa é a solução para o desequilíbrio da economia global: o fato de China e "outros emergentes" (que não citou) estarem poupando e acumulando reservas demais, enquanto outros - os Estados Unidos - gastam muito.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, levantaram dúvidas sobre o esquema, dizendo que o Brasil só aceitará discutir a proposta se tiver autonomia para decidir como e quando colocar ou retirar suas reservas do pool.

- Se você tem um pool de reservas, significa que você tem as reservas quando precisa delas. Ocorre o mesmo com um seguro: você espera que o seguro pague quando você precisa dele - afirmou Strauss-Kahn sobre a reação das autoridades brasileiras, ressaltando, porém, que "é muito cedo para falar dos detalhes".