Título: Era uma festa, uma bagunça, diz advogada
Autor: Suwan, Leila; Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 06/10/2009, O País, p. 3
Três conferentes de prova na gráfica admitiram furto e disseram que segurança era frágil
SÃO PAULO. Três conferentes que trabalhavam na gráfica Plural, contratados por uma empresa terceirizada, admitiram ontem o furto das provas do Enem e foram indiciados por peculato, entre outros crimes.
Eles disseram à Polícia Federal que dezenas de outras pessoas tiveram acesso às provas, e que a segurança durante a fase de impressão era muito frágil. Segundo advogados dos envolvidos, a PF viu as imagens do circuito interno de TV da gráfica e deve intimar mais funcionários. Ao todo, cinco suspeitos já foram indiciados, dois deles no sábado.
¿ A PF está descobrindo absurdos na gráfica. Era uma festa, uma bagunça. Para se ter uma ideia, entravam e saíam de lá grupos de 30, 40 pessoas em ônibus, sem revista.
A PF já tem provas da fragilidade da gráfica. Um delegado chegou a nos afirmar: ¿Nossa, esse lugar é uma festa¿. Agora, eles apuram quem mais teria tido acesso às provas ¿ disse a advogada Claudete Pinheiro da Silva, que defende Felipe Pradella, um dos conferentes indiciados.
Segundo ela, Pradella, de 32 anos, contou à PF que recebeu a prova de outro conferente, que também depôs ontem e responsabilizou um terceiro conferente. Este admitiu o furto. Os outros dois rapazes foram identificados apenas como Felipe e Marcelo. O nome da empresa que os contratou não foi divulgado.
A empresa Fort Knox, contratada pela gráfica Plural para participar do esquema de segurança, negou que Pradella tenha sido seu funcionário. A Fort Knox presta serviços de segurança e monitoramento para a gráfica Plural desde 12 de setembro, mas diz não ter ligação com a Cetros, empresa do consórcio responsável pela impressão das provas.
Os três conferentes foram acareados e confessaram o furto. Segundo a advogada, a intenção inicial do grupo seria denunciar a fragilidade da segurança na gráfica. Depois, Pradella e o DJ Gregory Camillo Craid decidiram tentar vender as provas por R$ 500 mil. Procuraram o empresário Luciano Ribeiro, dono de uma pizzaria, que conhecia jornalistas e fez os contatos.
O DJ e Pradella teriam sido indiciados também por tentativa de extorsão.
¿ A ideia inicial deles não era vender, e sim denunciar o caso à imprensa.
Mas depois o DJ convenceu Pradella a tentar vender, por sugestão de um repórter de TV. Eles nem sabiam que era ilícito ¿ disse a advogada.
Gregory disse que não pretende dar entrevista neste momento. Ele diz estar envergonhado por ter prejudicado 4,1 milhões de estudantes que fariam o Enem. O advogado de Luciano Rodrigues, Luiz Vicente Bezinelli, disse que pedirá a exclusão de seu cliente no caso. Perguntado sobre a motivação do grupo, ele reagiu: ¿ Eles foram burros. Foi uma burrice.
Não há esquema algum por trás disso, nem políticos, ou algum propósito de derrubar ministro, nada.
As fragilidades da gráfica ficaram expostas, na avaliação de Bezinelli. O advogado considerou que as imagens apresentadas pela gráfica não mostram o momento do furto. Segundo ele, há falhas no próprio sistema de impressão. Em alguns momentos, que podem ter sido observados pelos funcionários, o sistema tem buracos negros, ou seja, áreas sem filmagem.
O diretor-geral da Plural, Carlos Jacomine, preferiu se manifestar por escrito.
Segundo a nota, a gráfica foi contratada apenas ¿para imprimir, grampear e intercalar os diferentes tipos de provas do Enem¿. A responsabilidade pela segurança seria de responsabilidade exclusiva do consórcio contratado pelo MEC: ¿A Plural disponibilizou para o Connasel uma área restrita para a guarda e manuseio das provas, cuja vigilância era de responsabilidade exclusiva da segurança do consórcio¿, diz. A Plural afirma ainda que nenhum profissional seu teve responsabilidade sobre o manuseio, empacotamento e expedição das provas.
Segundo Jacomine, todos os envolvidos no vazamento atuaram sob o comando do Connasel. O consórcio contratou uma assessoria de imprensa, mas até ontem não tinha apresentado sua versão.