Título: Escola forma cidadão de 2ª categoria
Autor: Suwan, Leila; Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 06/10/2009, O País, p. 3

Pesquisador critica educação brasileira em encontro sobre o tema em Caxambu

CAXAMBU. Enquanto o presidente Lula festeja a vitória do Rio na disputa olímpica, afirmando que os brasileiros deixarão de ser vistos como cidadãos de segunda classe, o economista Plinio de Arruda Sampaio Jr, da Unicamp, alertou, no 32oEncontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), que a educação brasileira forma cidadãos de segunda classe. Num estudo encomendado pela Anped e apresentado na manhã de ontem ao Grupo de Trabalho de Educação e Política, Arruda Sampaio Jr afirmou que o Brasil vive um momento de ¿reversão neocolonial¿ e que tem sua educação a reboque das políticas do Banco Mundial: ¿ A escola forma cidadão de segunda categoria, prepara a mão de obra para um papel subalterno na economia, e quebra as identidades nacionais. O Brasil se mostra particularmente vulnerável à reversão neocolonial, o que pode ser visto com o incremento do agronegócio, por exemplo, e a crise nas indústrias. Há um contingente de desempregados e subempregados de 30% a 40% da população (economicamente ativa).

O pesquisador afirmou que não se trata de criticar o governo, já que esse movimento vem de ¿processos estruturais de muita força¿, e que o Brasil vive uma ¿profunda crise federativa¿. Em sua opinião, ¿é óbvio que o Estado nacional está desmantelando, com a deterioração da escola pública e o crescimento da privatização da educação¿.

Quanto ao peso da crise global sobre o Brasil, o economista fez outro alerta: ¿ Aqueles que pensarem que a crise foi resolvida estão alienados. O Brasil está na rota da especulação e, por ora, se beneficiou disso, o que nos dá a impressão de que o problema não é nosso ou de que, malandros, resolvemos a questão.

O professor Romualdo Portela, da USP, fez um contraponto questionando a influência do Banco Mundial sobre a educação brasileira.

¿ O Banco Mundial teve mais influência nos planos de avaliação, mas não vigorou na ideia de cobrança de mensalidade no ensino superior nem na reforma do ensino médio ¿ disse Portela.

Os especialistas também discutiram o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que entrará em vigor para o período de 2011 a 2020. O pesquisador Luiz Dourado, da Universidade Federal de Goiás (UFG), que coordenou um estudo de avaliação do plano que ainda está em vigor e foi apresentado no encontro da Anped, disse que o novo plano tem de ser ¿ousado do tamanho do Brasil, com os desequilíbrios regionais do país¿: ¿ A sociedade queria investimentos de 10% do PIB (na educação), o governo baixou para 7%, que foi vetado.

A média foi um investimento de 4% e, agora, ele subiu para 5% do PIB. Não se pode fazer um plano de políticas sem discutir o financiamento.