Título: No ranking do IDH, país não tem fôlego para avançar
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 06/10/2009, Economia, p. 19

Apesar de Índice de Desenvolvimento Humano subir para 0,813, Brasil se manteve na 75ª posição

BRASÍLIA. Apesar dos ganhos evidentes de renda nos últimos anos, o Brasil se manteve em 2009 (dados relativos a 2007) no mesmo lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ¿ que mede o bemestar da população ¿ calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em 182 países.

Em valores absolutos, contudo, houve uma discreta melhora. O IDH passou de 0,808 para 0,813, ou seja, acima do patamar de 0,8 a partir do qual um país é considerado de alto desenvolvimento. Essa melhora, porém, não foi suficiente para tirar o país da 75ª posição.

A Noruega é o melhor país para se viver, sendo seguida por Austrália, Islândia e Canadá. Os piores indicadores ficaram com Níger, Afeganistão (que passou a ser computado este ano) e Serra Leoa.

Dos componentes usados para calcular o IDH, o Brasil teve seu pior resultado na saúde, na 81ª posição no ranking. A melhor nota ficaria para a taxa de matrículas escolares (40%), que está muito próxima dos indicadores de países de IDH altíssimo (acima de 0,9), categoria acima da brasileira.

Os números do PNUD ainda não refletem o impacto da crise financeira internacional. Mas o organismo garante que haverá um efeito importante sobre o mercado de trabalho. A taxa de desemprego entre os países ricos deve atingir 8,4% em 2009.

No relatório divulgado no ano passado pelo Pnud, o Brasil aparecia na 70a-posição. Porém, o organismo revisou os dados para este ano e para os indicadores anteriores. Além disso, passaram a ser incluídos no ranking Andorra e Liechtenstein, dois países riquíssimos. Também foram consideradas algumas correções estatísticas, entre elas, mudanças para dados de renda da Rússia ¿ que, com isso, subiu duas colocações, para o 71º lugar ¿ e de população da Dominica e Granada.

Os ajustes provocaram uma dança das cadeiras. A Noruega, que estava em 2olugar, perdendo para a Islândia, assumiu a liderança já desde o relatório do ano passado. Os EUA continuam fora dos dez melhores países e a França voltou a este seleto grupo.

Entre os emergentes dos Brics, a Rússia ainda vem na frente, por ter renda maior e melhor educação; a China avançou consistentemente pelo ganho nestes dois indicadores, passando da 99ª para a 92ª posição, e a Índia é a lanterna, no 132olugar.

O Pnud destaca que o Brasil vem crescendo de maneira gradual nos últimos 20 anos e obteve melhores resultados do que os vizinhos da América Latina de mesmo nível de desenvolvimento a médio e longo prazos.

A curto prazo, contudo, este aumento ainda é lento. A principal explicação estaria na baixa expectativa de vida do país, hoje em 72,2 anos, contra 71,9 anos observada no relatório de 2008.

O governo discorda da análise do Pnud e aponta uso de dados defasados.

A secretária de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social, Luziele Tapajós, afirma que o Brasil entrou há três anos na lista dos países de desenvolvimento alto e vem se mantendo ali: ¿ Isso mostra que estamos no caminho certo.

O Pnud afirma que, para melhorar, o país precisa de políticas interligadas e não apenas aumentar renda.

¿ Pobreza não é apenas renda.

Existe um grande caminho a ser perseguido para diminuir a pobreza humana ¿ disse Flávio Comim, economista sênior do Pnud