Título: Prova saiu de gráfica escondida em cueca
Autor: Suwwan, Leila; Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 07/10/2009, O País, p. 3

Para PF, furto foi cometido por amadores e consórcio cometeu graves falhas de segurança

SÃO PAULO. As provas do Enem foram furtadas da gráfica Plural, em São Paulo, por conferentes contratados pela empresa Cetro, integrante do consórcio até então responsável pela prova. A Polícia Federal divulgou ontem imagens do circuito interno de TV da gráfica que mostram que o primeiro caderno de provas foi furtado no dia 21 de setembro por Felipe Ribeiro, a pedido de outro conferente, Felipe Pradella. Ribeiro escondeu a prova na cueca. No dia seguinte, Pradella furtou o segundo caderno de provas e escondeu sob a blusa de Marcelo Sena, terceiro conferente indiciado.

A PF concluiu ontem que o vazamento das provas do Enem foi cometido por amadores e que houve falhas graves das empresas responsáveis. A PF fará recomendações para o Ministério da Educação aprimorar o sistema.

As empresas não foram responsabilizadas criminalmente. Os três contratados temporários da Cetro e outros dois envolvidos responderão a processos criminais em liberdade.

¿ Houve fragilidade das empresas, não do governo. Nosso papel se encerra aqui. Além dos indiciamentos, faremos um relatório apontando as falhas de segurança e com sugestões para que não ocorram novos crimes ¿ disse o superintendente interino da PF paulista, Fernando Duran Poch.

Além do descontrole de entrada e saída de funcionários, as imagens fornecidas pela gráfica indicam que há pontos cegos nas filmagens e descontrole na segurança. Os três indiciados fariam parte de uma força-tarefa contratada pela Cetro por dez dias.

¿ Ficou claro que o mentor da operação foi Felipe Pradella ¿ disse o delegado Marcelo Sabadin Baltazar, que encerrou o inquérito descartando qualquer ligação com outros grupos.

Segundo o superintendente, o caso está 100% esclarecido. Pradella, Sena e Ribeiro assumiram o crime, mas negaram ter pedido R$ 500 mil pelas provas furtadas.

¿ Com os dois cadernos de provas na mão, Pradella tentou obter dinheiro fácil. Eles são um grupo totalmente amador, com uma maneira esquisita de querer vender, imagine, logo para a imprensa ¿ disse o delegado.

Sena e Ribeiro foram indiciados por quebra de sigilo funcional e peculato, crime atribuído a servidor público ou a quem exerce função equivalente, assim como o empresário Luciano Rodrigues, dono de uma pizzaria nos Jardins que intermediou o contato com repórteres do jornal ¿O Estado de S.

Paulo¿. Pradella e o DJ Gregory Camillo Craid foram indiciados por extorsão, pois tentaram vender as provas.

A PF acredita que foi Pradella quem ameaçou de morte a repórter Renata Cafardo, do ¿Estado¿. Ele nega.

¿ Ouvimos a gravação telefônica.

Temos certeza de que foi ele ¿ disse o delegado.

Os cinco indiciados responderão ao processo em liberdade. Pradella tem antecedentes criminais, contra o meio ambiente, por soltar balões. Segundo a PF, Marcelo Sena disse que Pradella queimou os cadernos furtados. Segundo o delegado, os depoimentos indicam que os cadernos permaneceram o tempo todo com Pradella.

Os advogados dos acusados afirmam que seus clientes pretendiam apenas denunciar o caso à imprensa e não sabiam que o vazamento era crime. Todos negam ter tentado vender as provas. A Plural divulgou apenas uma nota, anteontem, alegando que a responsabilidade pelas provas é do Conassel, o consórcio das empresas.

Ontem, não quis se manifestar.

O consórcio informou que não se manifestaria sobre o caso ontem.