Título: Para Lula, normalidade só volta com a saída de Micheletti
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 07/10/2009, O Mundo, p. 31

ESTOCOLMO. A possibilidade de uma saída negociada em Honduras, sinalizada pela revogação do estado de sítio pelo presidente interino, Roberto Micheletti, não convenceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou ontem a defender a saída imediata do poder do atual governo.

Para Lula, a normalidade só voltará quando o presidente deposto, Manuel Zelaya, reassumir o cargo.

¿ O único problema de Honduras é que existe um presidente que não deveria estar lá ¿ afirmou Lula, após a reunião de Cúpula BrasilUnião Europeia (UE). ¿ Se ele (Micheletti) sair, todo mundo vai mandar seus embaixadores de volta para lá e retirar as punições.

¿ Parece que Micheletti se deu conta das besteiras que está fazendo ¿ reforçou o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.

Ao lado do presidente da UE, o sueco Fredrik Reinfeldt, e do presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Durão Barroso, Lula disse que Zelaya está na qualidade de hóspede da embaixada.

O hondurenho, lembrou, pediu abrigo e o governo não teve como dizer não.

¿ Para nós, a solução em Honduras é fácil: se os que participaram do golpe de Estado deixassem o poder e permitissem o retorno do presidente Zelaya, então seriam celebradas eleições em novembro e teríamos solucionado o problema.

Brasil e UE condenaram o golpe numa declaração conjunta.

As duas partes se disseram preocupadas com a crise e reiteraram seu apoio aos esforços regionais de mediação.

Também destacaram a inviolabilidade das missões diplomáticas, numa referência ao cerco à embaixada brasileira.

¿Brasil e UE destacam a importância dos direitos da democracia, do primado do Direito e do respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais em Honduras, e estão prontos a contribuir para os esforços regionais em andamento para facilitar a restauração da ordem constitucional e do processo democrático¿, diz um trecho.

Outro tema polêmico diz respeito às relações entre Brasil e Irã. O assunto foi tratado com os principais dirigentes da UE. Segundo um alto funcionário do governo brasileiro, Lula defendeu que o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, seja chamado para negociar um acordo de não proliferação de armas nucleares.

O que não se pode, disse, é excluí-lo, pois isso o estimularia a radicalizar ainda mais.

Ahmadinejad fará uma visita ao Brasil até o fim deste ano. Lula, por sua vez, visitará Teerã no início de 2010.

*A repórter viajou a convite da União Europeia