Título: Período desastroso
Autor: Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 16/05/2009, Economia, p. 20

Primeiro trimestre ficará marcado como um dos piores para os principais países industrializados e emergentes porque a crise econômica derrubou a produção. No Brasil, PIB deve crescer até 1% este ano

Indicadores divulgados ontem mostraram o que governos, organismos multilaterais e analistas previram: o primeiro trimestre deste ano foi extremamente negativo. Para a maior parte dos países desenvolvidos e emergentes, o período entre janeiro e março vai registrar os piores resultados econômicos desde o início da crise internacional. A Zona do Euro, que reúne os 16 países europeus que adotam a moeda comum, mergulhou mais fundo na recessão ao recuar 2,5% em relação ao trimestre anterior, um tombo sem precedentes (leia mais na página 21). Em abril, a produção industrial nos Estados Unidos encolheu 0,5%, depois do dado também negativo de março (-1,7%). As perspectivas continuam ruins para o resto do ano, mas há sinais de esperança (leia mais na página 22).

No Brasil, a economia atingiu o fundo do poço no trimestre passado, com uma retração provável de 1,5%, na avaliação de analistas. A partir do segundo trimestre, deve haver uma recuperação do Produto Interno Bruto (PIB), mas num ritmo menor do que o imaginado há algumas semanas (leia mais abaixo). ¿A produção industrial cresceu nos três primeiros meses do ano, mas num nível mais fraco do que todo mundo previa. Além disso, o desemprego vai continuar em alta no país, devendo superar os 10%, com nítidos reflexos na renda e no consumo¿, avalia a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências. Por isso, a previsão da consultoria para o Brasil neste ano foi revista de um crescimento de 0,3% para uma contração de 0,5%.

Com base nos resultados piores do que o imaginado até agora, os economistas estão revendo as previsões para este trimestre. Muitos estimavam um crescimento de 2%, mas essa projeção certamente cairá. Os novos números não mudaram muito o panorama nos Estados Unidos. No primeiro trimestre, houve uma queda de 6,1% no PIB em termos anualizados, ou -1,5% na forma brasileira de calcular. Segundo as previsões da Tendências, o segundo trimestre trará uma contração de 0,9% nos EUA e o terceiro, de 0,7%. O início da recuperação viria no quarto, com uma leve subida de 0,4%. O resultado do ano seria uma retração de 2,5%, fechando o segundo ano em recessão pelos critérios norte-americanos.

Alguns fatores ainda atrapalham a retomada do nível de atividade nos Estados Unidos. O desemprego está em alta e a renda, em forte baixa. Além disso, as famílias estão muito endividadas, sem a disposição de tomar novos empréstimos. Tudo isso reduz o consumo, tradicionalmente responsável por 70% da economia do país. O crédito ainda não voltou a fluir para as empresas porque os bancos não resolveram seus problemas patrimoniais, apesar das centenas de bilhões de dólares derramados pelo governo em seus caixas. O mercado aposta alto no sucesso do fundo criado para comprar os papéis podres das instituições usando recursos públicos e privados. Mas o mecanismo não saiu do papel até o momento.

Apesar dos problemas, os índices de confiança dos consumidores e dos empresários vêm mostrando uma melhora no ânimo geral do país, responsável por 29% do PIB global. No resto do mundo, o primeiro trimestre foi ruim até para quem cresceu. Na China, a terceira maior economia do planeta, o PIB aumentou 6,1% no primeiro trimestre, um resultado frustrante para os impressionantes padrões do país. A expectativa é de que o mercado doméstico, insuflado pelo consumo das famílias e os gastos do governo, possa compensar a brutal redução nas exportações. Com o baque no comércio mundial, as vendas chinesas estão caindo num ritmo de 23%.