Título: Heráclito adia sabatina de Trezza
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 09/10/2009, O País, p. 3

Senador do DEM discursa contra a Abin e irrita base e oposição

BRASÍLIA. Um pedido de vista do senador Heráclito Fortes (DEM-PI) adiou ontem a sabatina de Wilson Trezza, indicado para o cargo de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ele se apresentou para falar na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, mas teve que deixar o plenário em silêncio após ouvir críticas de Heráclito à atuação da Abin e de seu antecessor, Paulo Lacerda. A intervenção irritou os governistas e surpreendeu a oposição. Os dois grupos se preparavam para aprovar a indicação sem maiores questionamentos.

Ex-agente do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), Trezza é diretor interino da Abin desde o afastamento de Lacerda, em setembro de 2008. A sessão atrasou quase uma hora.

Trezza chegou a ser elogiado pelo relator da indicação, Tasso Jereissati (PSDB-CE). Quando estava prestes a receber a palavra, Heráclito ligou o microfone para discursar contra a Abin.

¿ Este órgão se tornou um antro de arapongas a bisbilhotar a vida das pessoas, inclusive de parlamentares.

Vários, entre os quais me incluo, tiveram a vida bisbilhotada de forma ilegal pelos arapongas da Abin ¿ acusou o senador, que diz ter sido espionado na Operação Satiagraha por suas ligações com o banqueiro Daniel Dantas.

Heráclito chamou Lacerda de trapalhão e ironizou sua nomeação para o cargo de adido policial na embaixada do Brasil em Lisboa: ¿ Hoje, ele está em Portugal tomando vinho da terra, comendo queijo da Serra da Estrela e rindo das coisas que deixou aqui.

Wellington Salgado (PMDB-MG) o acusou de constranger Trezza: ¿ Isso é extremamente desrespeitoso e desagradável. Eu me sinto descortês com o convidado.

Apesar da insistência de outros governistas, Heráclito se manteve irredutível.

Restou ao presidente da comissão, Eduardo Azeredo (PSDB-MG), transformar o pedido em vista coletiva, remarcando a sabatina para quartafeira.

Constrangido, Trezza disse que confia em sua aprovação e prometeu manter a Abin longe dos holofotes.

¿ Não quero fazer juízo de valor sobre as pessoas que me antecederam, mas sou mais reservado. Acho que minha atividade, por natureza, prescinde desse tipo de exposição ¿ disse, evitando comentar as acusações de Heráclito. ¿ Não conheço as motivações dele. Para responder, precisaria ouvir seus argumentos.

Antes de deixar o Senado, Trezza deu meia-volta para conversar com parlamentares. Ao avistá-lo num corredor, Heráclito engrenou um novo discurso contra a Abin e o deixou de mão estendida no ar para cumprimentálo. Depois, os dois se despediram com um cumprimento formal.